Jorge Botelho Moniz

CT1DY, na Parede, é o nome da primeira estação de Rádio em Portugal. Botelho Moniz o responsável. Estamos em 1928. A estação vai aumentando o seu alcance e em 1930 passa a chamar-se Rádio Clube Português

O nascimento do Rádio Clube Português

A estação mudou o nome à medida que o seu alcance radiofónico aumentava. Assim sendo, a CT1DY, um pequeno posto emissor, chegou a chamar-se Rádio Parede, Rádio Costa do Sol e em 1930 passou a chamar-se Rádio Cube Português (RCP).

 

 

O Major Jorge Botelho Moniz durante o I Congresso Nacional de Radiotelefonia, organizado pel’O Século, explicou as origens do RCP:

«A ideia de um clube de senfilistas nos moldes que viemos a realizar com Rádio Clube Português nasceu de um almoço no Restaurante Roma, em que se reuniram alguns amigos do primitivo (CT1DY - Rádio Parede). Foram aí lançadas e aprovadas as bases de uma associação de radiófilos que reunisse boas vontades e competências na criação de uma emissora com seguras possibilidades de desenvolvimento técnico».

«Começámos com um posto muito humilde de meio watt (...). Todos conhecem bem o que foram as nossas primeiras emissões, como as ampliámos infatigavelmente com o apoio de todos os sócios e amigos de Rádio Clube Português».

Em pleno Funcionamento

O Rádio Clube Português entrou em funcionamento em 1931, com cerca de 400 associados, quatro anos antes do aparecimento da Emissora Nacional (EN).

Em 1935, um incêndio destruiu quase totalmente o edifício do RCP, mas das cinzas renasceu um novo edifício, com o apoio dos associados, tal como o Diário de Notícias noticiou : «pôr em pé e manter essa obra de fins altamente patrióticos que é o Rádio Clube Português, à volta de um homem de incontestável prestígio». (falta notícia – DN 8/10/1935 – digitalizar)

O RCP renasceu atualizado, dinâmico e exerceu uma ação decisiva durante a guerra civil de Espanha.

 

A causa franquista

O Major Jorge Botelho Moniz além de criador do RCP foi um dos militares da revolução de 28 de maio e amigo pessoal de Salazar. Durante a Guerra Civil de Espanha, Botelho Moniz instalou um eficiente serviço de informação e propaganda de apoio à causa Nacionalista  que teve eco em Portugal e Espanha.

A «oficiosa neutralidade» transmitida aos portugueses pela EN contrabalançou a militância do RCP, assumida a coberto do estatuto de «emissora privada». À semelhança do RCP , a EN também emitia em português e espanhol.

Com o desenrolar do conflito, o Major Jorge Botelho Moniz decidiu também levar avante a criação de um corpo de milícias portuguesas - os Viriatos - para intervir ao lado dos Nacionalistas. Mais tarde, foi um dos impulsionadores da criação da Legião Portuguesa.

O RCP foi muito importante como força moralizadora, de que é exemplo o episódio do Alcázar de Toledo, onde o próprio Botelho Moniz se dirigiu exaustivamente aos sitiados do Alcázar, motivando-os e assegurando que as tropas enviadas para os libertar do cerco republicano estavam a chegar.

 

 

 

A afirmação do RCP

O Rádio Clube Português, a par da ideologia política patente à sua origem é de relevar o fator tecnológico. Deste modo, apesar do pendor fascista inerente ao seu período inicial, o RCP foi a primeira estação de radiofusão em Portugal, e responsável por lavrar caminho para o posterior aparecimento e desenvolvimento de outros meios de comunicação de massa.

Com o RCP apareceu uma programação que privilegiou a música popular (portuguesa, espanhola e americana), numa altura em que o mercado fonográfico disponibilizava mais discos.

Também com Botelho Moniz foi definida a estética radiofónica que marcou vastos anos da rádio em Portugal. O RCP tinha um alinhamento diversificado onde se desenvolveram programas infantis, de informação, religiosos e de crítica musical.

 

 

«As lições de Gramática do Menino Tonecas», iniciadas em 1934 pela voz de Henrique Soromano e inserido na emissão infantil «O Sr.Doutor», foi uma rúbrica do RCP que ficou perpetuada na História da Rádio em Portugal.

Mais tarde, foi incluído o primeiro número musical, cantado por uma menina de seis anos, de seu nome Maria Manuela Extremadouro, mais conhecida por «Mimi». 

 

 

 

A par com o crescimento do RCP, Botelho Moniz travava uma relação conflituosa com Couto dos Santos – administrador-geral dos Correios e Telégrafos (AGCT).

O objetivo da AGCT era tutelar totalmente a radiodifusão portuguesa. As autorizações dadas às pequenas estações particulares eram concedidas com dificuldade, para além do escrutínio permanente sobre as suas atividades. Botelho Moniz e o seu RCP eram «uma pedra no sapato» para a AGCT devido ao protagonismo que esta estação assumia no panorama nacional.

A AGCT tentou ainda abolir a publicidade e limitar a frequência do RCP. Contudo, foram medidas passageiras, uma vez que o Major Botelho Moniz, além de ter sido um fiel amigo de Salazar, adotou uma estratégia de apoio às iniciativas e às políticas do governo. Por conseguinte, o RCP venceu a «guerrilha» e cresceu sem quaisquer entraves.

Após uma longa carreira militar e um papel preponderante na criação e desenvolvimento da rádio em Portugal, o Major Jorge Botelho Moniz morreu a 29 de julho de 1961.