Segunda Guerra Mundial

As bombas de Hertz

Depois da guerra civil de Espanha, os regimes totalitários europeus ficam mais fortes. Salazar em Portugal, Franco em Espanha, Mussolini na Itália e Hitler na Alemanha. Internacionalmente, Portugal proclama a neutralidade mas, internamente, não deixa de demonstrar simpatia para com a Alemanha Nazi. Cabe à BBC tomar a voz da liberdade ao inaugurar, em 1940, a seção portuguesa. O palco de guerra para lá das trincheiras é sentido nas ondas de Hertz.

A declaração de Guerra

O anúncio chegou a 3 de setembro de 1939 pela voz do primeiro-ministro do Reino Unido, Neville Chamberlain.

"This country is at war with Germany." 
[Este país está em guerra com a Alemanha]

 

A invasão da Polónia, dois dias antes, despoletara a declaração de guerra por parte da Grã-Bretanha e de França, na sequência do crescente clima de tensão entre as nações. Onze anos depois do final da Primeira Guerra Mundial, a Europa voltava a ser palco de um conflito.

 

 

Em setembro de 1939, poucos dias depois do anúncio, José Guerra Maio escreve n’O Comércio do Porto: «Paris oferece, ao meio-dia, o triste aspeto de uma cidade abandonada, ou de uma aldeia sertaneja às primeiras horas da manhã».

Tal como na Primeira Guerra Mundial, as agências noticiosas internacionais eram essenciais para a cobertura portuguesa dos assuntos europeus. Além das dificuldades económicas, a neutralidade portuguesa na Segunda Guerra Mundial impossibilitava o envio de enviados especiais. Restavam aos periódicos as cartas enviadas pelos seus correspondentes, na sua maioria instalados em Paris. Não obstante, a atenção dedicada aos regimes ditatoriais que grassavam na Europa não era recente.

«Agitada e sensacional entrevista com Adolfo Hitler, chefe dos nacionais-socialistas», podia ler-se na capa.

 

A Cobertura Mediática

À medida que o exército de Hitler marchava pela Europa, os meios de comunicação tentavam mostrar-se à altura. Na frente alemã, os meios de comunicação estavam sobre o controlo do Estado e as informações oficiais eram veiculadas apenas por membros da Divisão de Propaganda nacional.

 

 

Através da divisão de imprensa estrangeira, os alemães convidavam jornalistas de outros países a reportar a guerra a partir da frente alemã, com garantias de isenção e liberdade que não se vieram a verificar. Goebbels, ministro da Propaganda, enviou jornalistas e fotógrafos para a divisão de propaganda do exército, criando a categoria de repórteres-soldados. Esperava-se que, simultaneamente, combatessem e cobrissem o conflito a partir da linha da frente.

 

Sabemos que Nazi é a abreviatura de Partido Nacional Socialista mas, não sabemos que essa nomenclatura foi inventada por um jornalista, um jornalista judeu alemão. Antes de Nazi a abreviatura para usada para se referirem ao partido de Adolf Hitler era Nasos. Konrad Heiden que muitas vezes assinou sob o pseudónimo de Klaus Bredow, foi uma das primeiras vozes a criticar as políticas do regime. Trabalhou nos jornais Frankfurter Zeitung e Vossischen Zeitung. Em 1932 tornou-se freelancer e depois partiu para o exílio.

Do lado dos Aliados, o trabalho dos repórteres era sujeito a restrições militares que se assemelhavam às da Primeira Guerra Mundial. Os enviados especiais contavam com melhores condições de trabalho, mas os seus textos continuavam a ser revistos e censurados, sendo utilizados como forma de propaganda. O incentivo ao esforço de guerra era transmitido para as casas de milhões de ingleses, tendo nos políticos os principais difusores.

Charles de Gaulle emitiu através da BBC um dos maiores discursos de incentivo à resistência francesa. O discurso ocorreu após a derrota da França na batalha que permitiu a invasão e ocupação Nazi, em maio de 1940.

 

 

Os discursos do recém-eleito Primeiro-ministro, Winston Churchill, foram emitidos para todo o país e tornaram-se símbolos da resistência britânica.

 

 

"We shall go on to the end, we shall fight in France, we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and growing strength in the air, we shall defend our Island, whatever the cost may be, we shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender." [Iremos até ao fim. Lutaremos na França. Lutaremos nos mares e oceanos, lutaremos com confiança crescente e força crescente no ar, defenderemos nossa ilha, qualquer que seja o custo. Lutaremos nas praias, lutaremos nos terrenos de desembarque, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas; nunca nos renderemos]

As trincheiras radiofónicas

O Ministério da Informação inglês estabeleceu que a BBC teria de ser encarada como um departamento do governo referente à cobertura de atividades bélicas. Na Alemanha, por sua vez, a Rádio Hamburgo apostava em emissões em inglês, sob a voz de “Lord Haw-Haw”, que faziam sucesso entre um terço dos britânicos. O motivo? As emissões da BBC eram consideradas desinteressantes e as suas notícias pouco credíveis.

 

 

O Ministério da Informação inglês reagiu, autorizando a BBC a emitir as notícias bélicas com mais celeridade, com a exceção de informações que pudessem ser úteis aos alemães. Uma estratégia que ajudou a aumentar a confiança pública na informação da BBC, permitindo que a mensagem propagandística subjacente às emissões passasse para os ingleses.

Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, também a rádio era um meio em ascensão. Com mais de 45 milhões de aparelhos espalhados pelo país, os norte-americanos escutavam, em média, quatro horas e meia de emissão por dia. Os jornais ofereciam uma cobertura mais aprofundada, mas a imediaticidade da rádio tornou-a num meio fundamental, acompanhado pelos norte-americanos ao longo da guerra. O repórter norte-americano Edward R. Murrow foi um dos nomes que mais se destacou ao reportar a partir de Inglaterra, sendo considerado o percursor da cobertura radiofónica.

 

A confirmação de uma guerra mundial

A guerra estava prestes a atingir diretamente os Estados Unidos. Às 14h20 do dia 7 de dezembro de 1941, a Associated Press enviava um boletim para os meios de comunicação: Pearl Harbor tinha sido atacado. Depois de confirmar a veracidade da informação com o Governo, as rádios interromperam as suas emissões com as notícias do ataque.

 

 

Um jornalista testemunhou as explosões a partir do telhado de um edifício, noticiando em tempo real. "It is no joke, it is a real war". [Não é uma piada, é uma guerra real]

O público norte-americano recebeu as notícias com desconfiança. Afinal, apenas três anos antes, em 1938, Orson Welles tinha semeado o pânico com a sua emissão dramatizada de A Guerra dos Mundos.

 

 

Desta vez, o ataque era bem real. O bombardeamento ocorreu num domingo de manhã, pelo que a maioria dos jornais já tinha sido impressa. Alguns conseguiram publicar a notícia ainda no próprio dia, através de edições especiais.

Na manhã seguinte, chegavam mais informações. Por se tratar de um local de difícil acesso aos jornalistas, os dados eram divulgados maioritariamente pelo Gabinete de Imprensa da Casa Branca.

The Japanese aggression yesterday did more than start a Pacific war. It broadened the conflicts already raging into a world-wide struggle whose end no man can know», lia-se no The New York Times. [A agressão japonesa de ontem fez mais do que começar uma guerra no Pacífico. Alargou os conflitos para uma luta a nível mundial, cujo fim nenhum homem pode conhecer]

As previsões viriam a ser confirmadas ainda nesse dia. Roosevelt reúne o Congresso e a rádio leva a decisão a milhões de ouvintes: os Estados Unidos estavam em guerra.

 

"Yesterday, December 7th, 1941, a date which will live in infamy, the United States of America was suddenly and deliberately attacked by naval and air forces of the Empire of Japan." [Ontem, 7 de dezembro de 1941, uma data que viverá na infâmia, os Estados Unidos da América foram atacados súbita e deliberadamente pelas forças navais e aéreas do Império do Japão]

Bob Landry foi um dos únicos fotógrafos profissionais a captar a tragédia. As suas imagens foram censuradas de forma a proteger informação militar e detalhes do armamento. As fotografias só veriam a luz do dia dois meses depois do ataque, nas revistas TIME e LIFE.

 

 

As imagens em filme dos ataques foram vistas pelos norte-americanos através dos newsreel, transmitidos nos cinemas do país nos meses que se seguiram.

 

 

Depois do ataque a Pearl Harbor, os meios de comunicação japoneses viram a sua liberdade ainda mais restrita. Em 1940, os departamentos de informação tinham sido centralizados no Ministério do Interior, com completo controlo sobre as notícias que eram publicadas. Os meios de comunicação eram invadidos por um sentimento anti-americano, apelando ao patriotismo e orgulho nacional. Também os cartoonistas davam o seu contributo propagandístico.

Para Portugal, a neutralidade

Em Portugal, Salazar balançava a neutralidade como podia. De um lado, a proximidade com Franco, que, apesar da neutralidade oficial de Espanha, mostrava simpatia pelos regimes de Hitler e Franco. Do outro, a antiga aliança luso-britânica, parte essencial da estratégia internacional portuguesa.

«O Governo inglês pediu facilidades nos Açores que foram concedidas pelo Governo português», anunciava o Diário de Notícias de 13 de outubro de 1943.

 

 

Desde o início da guerra ficou patente a apreensão de Salazar relativamente ao comunismo, uma preocupação que estava por detrás de grande parte das movimentações políticas do líder. A imprensa, condicionada pela censura, refletia a mesma tendência. A obrigação de neutralidade relativamente ao conflito entre os Aliados e a Alemanha não se verificava em relação à União Soviética. Em 1940, Amadeu de Freitas foi o único português a cobrir o ataque soviético à Finlândia, resultante de um acordo secreto entre a Alemanha e a União Soviética.

Aquando da sua partida, O Século escrevia que a sua missão seria cobrir «a odisseia desse pequeno povo cujo heroísmo encontra no mundo inteiro um eco de comovida admiração». Além das crónicas para o jornal o repórter também deu conta do ambiente vivido na Finlândia na Emissora Nacional: «Começam a cair as bombas, os aviões começam a espalhar a morte. […] Fogem todos para os abrigos! Os buracos abrem-se e engolem os homens. Os russos continuam a deitar granadas e a deitar bombas. O gelo começa a sujar-se de vermelho». 

No resto do mundo, a preocupação com a imprensa era uma constante para os países envolvidos no conflito.

 

O líder da Supreme Headquarters Allied Expeditionary Force (SHAEF), Dwight D. Eisenhower, que viria a ser Presidente norte-americano uma década depois, reconhecia a importância dos meios de comunicação, acreditando que "public opinion wins wars." [a opinião pública vence guerras]​

A decisiva Batalha da Normandia

Nos meses que antecederam à Batalha da Normandia, a estratégia de Eisenhower passava por controlar o número de correspondentes no terreno através da atribuição de acreditações. Os jornalistas queixavam-se da rigidez das regras, dos limites e da censura impostos e da preferência dada a alguns meios na acreditação de repórteres, mas Eisenhower estava focado na sua missão: “to discover the best means of keeping the press securely in the dark, while at the same time not appearing to treat them as complete outsiders." [descobrir as melhores formas de manter a imprensa firmemente no escuro e, ao mesmo tempo, parecer não os tratar como completos outsiders]​

“Chanson d'automne” [Canção de Outono]​, um poema de Paul Verlaine foi a senha para o início da ofensiva na Normandia. O poema emitido na BBC, usado como código, foi repartido pelos 3 dias que antecederam ao desembarque.

A 6 de junho de 1944, o Dia D, os Aliados entravam em França através da Normandia, com uma armada de cinco mil navios. A bordo do USS Ancon seguia o repórter norte-americano George Hicks.

 

 

 

"You see the ships lying in all directions, just like black shadows on the grey sky." [Vêem-se navios em todas as direções, como sombras negras no céu cinzento]​

A emissão de John Snagge na BBC em Londres descodificava aos poucos e poucos o que se iria passar. “The next time our feet touch dry land it will be on the soil of Europe. A new phase of the Allied Air Initiative has begun.” [Da próxima vez que os nossos pés tocarrem em terra firma será em solo da Europa. Começou uma nova fase iniciativa aérea Aliada]​ 

Ao meio-dia John Snagge seguro da eficácia da intervenção dos Aliados anunciou “D-Day has come.” [O Dia D chegou]​ 

 

 

O sucesso da operação foi amplamente divulgado nos meios de comunicação dos países Aliados.

 

 

Robert Capa foi um dos únicos quatro fotojornalistas norte-americanos autorizados pelas Forças Armadas a acompanhar a chegada à Normandia. Das mais de cem imagens captadas, menos de uma dezena terão sobrevivido, sendo publicadas na revista LIFE.

 

 

A Batalha de Normandia marcou o início do fim do império nazi. A operação teve um impacto forte nas tropas de Hitler, que perderam o controlo de França e se viram impedidos de fortalecer a frente oriental contra os avanços soviéticos. Já no ano anterior Hitler sofrera uma baixa de peso, com a queda de Mussolini, em Itália.

A demissão do Il Ducee a ascensão de Pietro Badoglio ao cargo de Primeiro Ministro fora anunciada aos italianos em julho de 1943. No final do boletim noticioso, foi tocado o hino nacional e não o hino do partido Fasci di Combattimento, um sinal de que o novo Governo pretendia afastar-se do rumo tomado por Mussolini. A rádio alemã minimizou a importância da notícia, afirmando que se tratava de «política interna italiana». Por sua vez, o correspondente do Times escreveu: "the people know plainly that he has resigned because he is a failure – a failed criminal." [as pessoas simplesmente sabem que ele se demitiu porque é um falhanço – um criminoso falhado]​ Il Duce caía em ruína e era preso.

A queda dos ditadores

Em setembro, os paraquedistas alemães organizavam uma operação de resgate. De novo em liberdade, Mussolini iria criar um Estado fascista no norte da Itália, mas a autoridade e o poder decisório estavam do lado alemão. Em abril de 1945, Mussolini e a sua amante eram capturados e executados enquanto tentavam fugir do país.

 

 

Os seus corpos foram expostos "with ghastly promiscuity in the open square under the same fence against which one year ago 15 partisans had been shot by their own countrymen" [com uma promiscuidade medonha na praça aberta, no muro em que, há um ano, 15 partisans foram  baleados pelos seus compatriotas], escreveu o  Times.

A ruína de Benito Mussolini foi acompanhada a par e passo pelos italianos. Durante os anos que passou à frente dos destinos do país, a imagem do ditador foi mitificada, transformando-se numa entidade quase divina. Enquanto Hitler recebia cerca de um milhar de cartas do público por mês, Mussolini chegava a ter 1500 missivas por dia. Muitas eram pedidos de ajuda, mas um número considerável era de admiradoras femininas.

Agora, o público queria assistir à sua queda. Uma Itália cansada da guerra sentia-se enganada pelo antigo líder. A procura às fotos que retratavam o fim de Il Duce foi tanta que a edição mediterrânica do jornal das Forças Armadas norte-americanas, Stars and Stripes, esgotou, valorizando o preço do periódico em mais de 700 por cento.

As notícias viajaram até Berlim e chegaram ao bunker onde Hitler se refugiava. Temendo destino semelhante e em face de uma derrota iminente, Hitler suicida-se dois dias depois, a 30 de abril de 1945. Karl Dönitz era confirmado como o seu sucessor.

A rádio alemã anunciava a morte do Führer, «lutando até ao último suspiro contra o bolchevismo e pela Alemanha».

 

 

Com tiragens reduzidas, devido à falta de papel e tinta, os jornais alemães eram um símbolo de um país em ruína. Mas nem por isso deixaram de prestar uma última homenagem a Hitler. «O homem está morto. Ele caiu a lutar. Ele manteve-se fiel a si próprio. Queria o melhor para a sua gente, razão pela qual o amavam tanto».

Do lado dos Aliados, a BBC anunciava ao mundo a queda de Hitler. A notícia espalhava-se, mas a guerra continuava oficialmente a decorrer.

 

 

A vitória dos Aliados

Poucos dias depois, os alemães rendiam-se e a vitória dos Aliados é anunciada por Churchill.

 

 

Foram 17 os jornalistas autorizados a assistir à cerimónia de rendição da Alemanha, na condição de não reportarem a notícia até serem autorizados pelo Exército norte-americano. Edward Kennedy, correspondente da Associated Press (AP), percebeu que o embargo tinha motivos políticos e não militares.

Churchill e Truman tinham acordado atrasar a notícia para permitir que Estaline organizasse uma cerimónia de rendição em Berlim. Kennedy decidiu quebrar o voto de silêncio e reportar a notícia.

A SHAEF (Supreme Headquarters Allied Expeditionary Force) e os meios de comunicação concorrentes criticaram a AP, que acabou por se desculpar e despedir Kennedy por noticiar aquele que seria o furo da década. "It was not a desire to make a 'scoop' that pushed me inexorably to my decision — I had already scored plenty of those. It was a conviction that my duty was to report the news. […] I have never regretted my decision", escreveu Kennedy em agosto de 1948. [Não foi o desejo de ter um ‘furo’ que me empurrou inexoravelmente para a minha decisão – já tinha tido vários. Foi a convicção de que o meu dever era dar notícias […] Nunca me arrependi da minha decisão]

Se os ânimos tinham acalmado na Europa, no Pacífico e na Ásia a história era bem diferente. "A short time ago, an American airplane dropped one bomb on Hiroshima and destroyed its usefuelness to the enemy." [Há pouco tempo, um avião americano lançou uma bomba em Hiroshima e destruiu a sua utilidade para o inimigo] anunciava Truman em agosto de 1945. Três dias depois, também Nagasaki era bombardeada.

 

 

O anúncio oficial do ataque a Hiroshima foi manchete nos jornais japoneses, que, nesta fase, se limitavam a apenas duas páginas, devido à falta de papel. A 11 de agosto, os jornais publicaram pela primeira vez que a arma utilizada pelos norte-americanos no bombardeamento se tratava de uma bomba nuclear. As edições fizeram ainda referência aos protestos do Governo japonês contra a nova bomba, considerada cruel, inumana e uma violação das leis internacionais.

Três dias depois do bombardeamento a Nagasaki o Imperador Japonês, Hirohito, anunciou a rendição do Japão através da rádio. O "Jewel Voice Broadcast" foi o programa escolhido. Hirohito nunca usou a palavra rendição preferindo a expressão cessar-fogo. O Japão viria a assinar a rendição em setembro, colocando um ponto final na Segunda Guerra Mundial.

 

 

 

Os Aliados celebravam o triunfo e Fernando Pessa, jornalista da secção portuguesa da BBC, testemunhou a parada da vitória, em Londres.

 

 

A «Voz de Londres» era tida como uma fonte segura do que realmente se passava na guerra, ao contrário das informações censuradas na Emissora Nacional e no Rádio Clube Português. A razão deste sucesso recaía também na voz do irreverente Fernando Pessa que ficou conhecido pela expressão: «A BBC fala e o mundo acredita.»

A partir de Londres o locutor narrava os últimos eventos num estilo próprio e nunca deixava passar a oportunidade de ridicularizar Hitler, a quem se referia, em tom jocoso, como «Senhor Hitler».

Do outro lado dos «bombardeamentos hertzianos» estava a Reichesrundfunk, em Portugal conhecida por Rádio Berlim. Os seus locutores não tinham o sentido de humor de Fernando Pessa nem a sua popularidade. As notícias pecavam pelo excesso de otimismo e as palestras não convenciam os portugueses de que o III Reich estava a ser vítima de uma conspiração aliada. Nos corredores do Ministério da Propaganda do III Reich era crucial encontrar um opositor à altura de Fernando Pessa. Alguém capaz de cativar as massas e de fazer passar a mensagem nazi.  

 Em 1944 surgiu uma nova voz na Rádio Berlim. Um locutor que acreditava ser capaz passar a mensagem nazi e rivalizar com a fama de Fernando Pessa. Chamava-se Alfredo de Freitas Branco e era um madeirense com título aristocrático: visconde do Porto da Cruz.

 

«Munique, cidade que sofre e chora»

Um ambiente muito diferente era vivido na Alemanha. «Londres, cidade que ri e canta… Munique, cidade que sofre e chora», relatava Manuel Rodrigues no Diário de Notícias. O correspondente português acompanhou uma visita organizada pelos norte-americanos para a imprensa internacional, que deu a conhecer os escombros da cidade alemã. No regresso a Portugal, Manuel Rodrigues visita Londres em festa, espantando-se com «a distância que vai da vitória à derrota».

O clima de celebração não apagava os horrores que iam sendo descobertos nas ruínas do império nazi. À medida que avançavam pela Europa, os Aliados deparavam-se com o cenário de terror dos campos de concentração e extermínio. A violência da descrição surpreendeu até a própria BBC que, numa primeira fase, decidiu não emitir a sua reportagem, receando uma quebra de credibilidade.

 

 

No início de maio, o Diário de Notícias e o Diário de Lisboa foram contactados pela Embaixada Britânica em Lisboa para visitar os campos da morte.

 

«Milhares de prisioneiros enchiam o vasto recinto. Os que não trazem as suas roupas próprias usam a farda listrada de penitenciários»,descreve Norberto Lopes na sua crónica de 17 de maio no Diário de Lisboa.

Dada a natureza das reportagens, muitos questionaram se se tratariam de uma arma de propaganda política. «Existe exagero nos relatos que têm sido publicados a respeito dos campos de concentração alemães? Pelo que diz respeito a Dachau posso afirmar que não», escreveu Manuel Rodrigues para o Diário de Notícias, a 15 de maio.

Esta e outras faces do conflito passaram para o pequeno e o grande ecrã, tornando a Segunda Guerra num dos conflitos mais retratados na cultura popular.

 

 

Um dos testemunhos mais pungentes da guerra chegou pela caneta de Anne Frank. O seu diário, publicado em 1947, já após a sua morte e o final da Guerra, oferece um relato da guerra sob o olhar de uma menina de 13 anos.

Também Primo Levi viveu em primeira mão o Holocausto. O seu livro Se isto é um Homem foi inspirado nos onze meses que passou em Auschwitz.

 

 

O escritor Patrick Modiano nasceu dois meses depois do fim da Guerra, mas esta é um dos temas comuns a várias das suas obras. O Prémio Nobel da Literatura foi-lhe atribuído em 2014, por  conseguir, através das suas histórias, evocar "the most ungraspable human destinies" [os mais incompreensíveis destinos humanos] e revelar a vida por detrás da ocupação Nazi na capital francesa.

Também o mundo da música foi buscar inspiração à guerra. Roger Waters, dos Pink Floyd, escreveu When the Tigers Broke Free sobre a morte do seu pai na Operação Shingle, em Itália. 

Este conflito foi também a Guerra das ondas hertzianas. Nas trincheiras, ambas as frentes de combate expandiram as suas emissões para territórios de influência. Em 1942, os Estados Unidos da América iniciaram a transmissão a nível nacional com a estação de rádio pública Voice of America. Tal expansão chegou aos cidadãos das Filipinas.

A Segunda Guerra Mundial deixou marcas profundas no jornalismo de guerra e na cultura popular de todo o mundo.