1912

Naufrágio do Titanic

O embate

Às 23h40 do dia 14 de abril de 1912, algures no Oceano Atlântico, o RSM Titanic embate num icebergue e dá início à sua viagem final até águas profundas. Mais de 1500 passageiros são arrastados com o Titanic.

Desde aquela noite fatídica, a história do navio dos sonhos corre mundo e conquista o seu lugar no imaginário cultural.

Poucas horas após o acidente, a Associated Press emite um comunicado que dava conta do embate do RMS Titanic contra um iceberg e do pedido de ajuda imediata. A notícia rompe a tranquilidade de uma pacata noite de domingo nas redações norte-americanas. À falta de mais informações, os editores decidem abordar a notícia com cautela; afinal, o Titanic era o maior e mais moderno navio jamais construído. Ainda assim, o jornalista Carr Van Anda é a exceção.

 

 

 

A cobertura mediática

Carr Van Anda lidera a redação numa pesquisa frenética sobre o Titanic e prepara a capa que se viria a tornar icónica. O managing editor do New York Times percebe que o silêncio das comunicações do Titanic não augurava boas notícias para embarcação.

 

 

Do outro lado do Atlântico, houve quem optasse por publicar uma versão cautelosa. A International Mecantile Marine, responsável pela White Star Line, faz chegar às redações o seu parecer, descrevendo o navio como “impossível de afundar”. As declarações contribuem para aumentar a confusão e os relatos contraditórios.

 

 

A diferença horária beneficia os jornais norte-americanos, que têm mais tempo para reunir o maior número de factos possível e construir uma narrativa. Mas mesmo as versões mais moderadas deixam antever a verdadeira dimensão da tragédia.

 

 

 

   Nos dias que se seguem ao naufrágio, a notícia corre mundo e chega a Portugal.

 

 

Nos vários periódicos, a cobertura pauta-se pela utilização de técnicas inovadoras a nível gráfico, que permitem ilustrar a dimensão da tragédia de forma mais compreensível para os leitores. Detalhes técnicos e geográficos do acidente ganham vida através de ilustrações e gráficos laboriosamente elaborados, fornecendo um ponto de referência visual.

 

 

 

Com a divulgação da lista completa dos passageiros, a tragédia ganha rostos. A elite da sociedade da época que viajava a bordo do navio é o principal alvo da cobertura mediática.

 

As estórias do naufrágio

A cobertura mediática do naufrágio é feita de pequenas estórias. Dos passageiros à tripulação, passando pelos construtores do navio, as páginas dos periódicos enchem-se de novos protagonistas.

 

 

Mas os protagonistas mais aguardados estão a bordo do Carpathia. O navio que resgatou os sobreviventes do Titanic não está autorizado a comunicar com a imprensa sobre os detalhes da tragédia. Aos jornalistas resta-lhes esperar.

 

 

A chegada do Carpathia a Nova Iorque estava prevista para quinta-feira, 18 de abril. A bordo vêm os sobreviventes, as únicas testemunhas dos horrores da fatídica madrugada. Aceder a um relato na primeira pessoa era o principal objetivo dos jornalistas apinhados no porto nova-iorquino.

 

Depois da cobertura inovadora do The New York Times,nas horas imediatamente a seguir ao naufrágio, Van Anda tem os olhos postos num objetivo – falar com Harold Bride, operador do telégrafo do Titanic. Se há alguém com conhecimento dos acontecimentos da madrugada de 15 de abril, é Bride e o The New York Times tinha de ouvir a sua história.

O Carpathia atraca às 21h30 e a edição fechava três horas depois. Van Anda não se deixa intimidar. O The New York Timesocupa um piso inteiro de um hotel perto das docas, que transforma no seu quartel-general, com telefones ligados à redação. Dezasseis jornalistas são destacados para tentarem recolher não só testemunhos dos sobreviventes, mas também as pequenas histórias que envolvem a chegada do Carpathia, a reação da multidão e as medidas policiais.

Num golpe de genialidade que se revela frutífero, Van Anda envia o jornalista Jim Speers para entrevistar Guglielmo Marconi, conhecido pelo seu trabalho de desenvolvimento do telégrafo sem fios. O repórter segue Marconi para o interior do Carpathia, restrito a jornalistas.

 

 

A aventura resulta numa entrevista que fica na História, e uma peça que coroa o trabalho do The New York Times, considerado pelos especialistas como a primeira verdadeira cobertura mediática de desastres.

Contudo, o The New York Times não é o único a desafiar o black out do Carpathia. Nessa distante noite de abril, o The Evening Worlddepara-se, inesperadamente, com um interlocutor precisamente no local mais desejado: a bordo do Carpathia.

Um jornalista do The St. Louis Post-Dispatch– publicação, tal como o The Evening World, detida pela família Pulitzer – encontra-se a bordo da embarcação em lazer, quando o navio se desvia da rota para prestar auxílio aos sobreviventes do Titanic. Da sua posição priveligiada, Carlos F. Hurd consegue relatos em primeira mão das vítimas da tragédia. Apesar disso, contornar a política de silêncio do navio para entregar o exclusivo ao jornal mostra-se, porém, uma tarefa mais desafiante.

Na impossibilidade de aceder ao navio, Charles E. Chapin, city editor do The Evening World, aluga um barco para se aproximar o mais possível do Carpathia. Inclinado sobre o corrimão, conta a lenda que o jornalista Carlos F. Hurd atira o manuscrito para os braços expetantes de Chapin, um conjunto de relatos que ajudou a reconstituir a noite trágica vivida no Atlântico.

 

 

Durante as décadas que se seguem, e até aos nossos dias, o Titanic e as vidas dos seus malogrados passageiros fascinam o mundo.

 

Um acontecimento intemporal

Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, o acidente ganha diversas plataformas de investigação e divulgação. Filmagens da época sobrevivem à passagem do tempo e contribuem para imortalizar a história do desastre.

 

 

 

 

Ao longo das décadas, a BBC reuniu relatos de sobreviventes, fragmentos de uma das maiores tragédias marítimas do século XX. 

Na televisão, os documentários utilizam a mais recente tecnologia para explorar os mistérios do navio e descobrir as histórias que estão por contar.

 

 

 

 

Dos factos provados ao imaginário popular, a história do Titanic navega pelo mar da memória e é um dos acontecimentos mais mediáticos do século XX. Desde cedo que a tragédia inspira manifestações culturais dos mais variados géneros.

 

 

A mais famosa adaptação chega em 1997, pela mão de James Cameron. A longa-metragem protagonizada por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio é um êxito de bilheteira. Com 11 Óscares da Academia, é um dos filmes mais premiados da História da Sétima Arte.

 

 

 

A atenção mediática que gera torna o filme num verdadeiro clássico dos tempos modernos. Mais de cem anos depois, o naufrágio do Titanic continua a gerar narrativas e a conquistar interesse pelo mundo fora. Imortalizada na memória e na pop culture, a viagem inaugural do navio conquista lugar no imaginário de várias gerações.

Recuar no tempo e explorar a cobertura mediática da época é perceber de que forma a tragédia se torna pública, que informações são divulgadas e que informações se afundam com o navio naquela terrível noite de abril.

 

 

A atenção mediática dedicada ao Titanic é crucial para garantir que a história e as estórias do “navio dos sonhos” não tenham permanecido para sempre submersas nas profundezas do Atlântico.