Críquete - Índia vs. Paquistão

Um fenómeno de audiências, uma ferramenta de diplomacia, um espetáculo mediático. A rivalidade entre Índia e Paquistão no críquete é um dos acontecimentos desportivos de maior audiência em todo o mundo.

A 15 de fevereiro de 2015, mais de um milhar de milhão de pessoas assistiu ao confronto entre a Índia e o Paquistão no Campeonato do Mundo de Críquete.

 

 

A história não jogava a favor do Paquistão: as duas nações tinham-se defrontado por cinco vezes na prova e a Índia somava cinco vitórias.

A rivalidade entre os países era aguerrida, duradoura e alargava-se para fora da arena desportiva.

O conflito remontava a 1947. Com a independência da Índia britânica, foram criadas duas nações: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana.

Apesar das diferenças entre os países, ambos continuam a ter algo em comum: do Reino Unido, Índia e Paquistão herdaram a paixão pelo críquete.

Nasce a rivalidade

Por altura da independência, Fazal Mahmood era um jogador muçulmano, que não queria deixar as difíceis relações entre as nações prejudicarem a sua carreira.

Nesse turbulento ano de 1947, viajou para a cidade indiana de Poona, para se juntar à equipa de críquete que preparava a sua digressão na Austrália.

As condições meteorológicas e o caos político ditaram o seu regresso a casa.

Por influência da sua religião e das divisões entre as nações, Mahmood foi pressionado pela família a retirar-se da equipa indiana.

O críquete do Paquistão encontrava, assim, uma das suas maiores estrelas.

Em 1952, Mahmood desempenhava um papel fundamental nos primeiros Tests disputados pela equipa nacional do Paquistão.  

Um dos adversários era a formação indiana.

Apesar do esforço da equipa paquistanesa, os indianos acabaram por sagrar-se vencedores.

Tinha início uma rivalidade desportiva que se mantém até à atualidade.

 

 

A competição no campo funciona como uma parte pequena, mas profundamente simbólica, de uma rivalidade bem mais complexa, da qual nem os jogadores, nem os adeptos conseguem escapar.

A diplomacia entra em campo

Entre 1961 e 1978, não se registou qualquer partida entre os dois países. O confronto travava-se no campo de batalha, com a disputa de territórios de Caxemira.

O críquete ocupou um papel fundamental no pós-guerra. De símbolo da rivalidade, o desporto passou a ferramenta política.

Em 1987, o termo «diplomacia de críquete» ganhou popularidade.

O líder do Paquistão, Muhammad Zia ul-Haq, visitou a Índia para assitir a uma partida com o Primeiro-Ministro indiano, Rajiv Gandhi.

«O críquete para a paz é a minha missão», afirmou Zia ul-Hag, à chegada ao aeroporto. «O meu único objetivo é vir e ver bom críquete e, enquanto isso, encontrar-me com o Primeiro-Ministro e ver como podemos resolver os nossos problemas».

Se, na política, as rivalidades pareciam afastadas, no campo estas continuavam bem acesas.

Mohammad Azharuddin foi uma das figuras do encontro, que terminou com a vitória da Índia.

O jovem jogador fazia parte da minoria muçulmana que permanecera no país após a independência britânica.

Mas o líder militar paquistanês deixou a religião de lado, ao comentar, diplomaticamente, a sua performance: «É um bom jogador indiano, na Índia».

Em 2005, críquete e diplomacia voltaram a jogar-se no mesmo campeonato.

O Presidente Pervez Musharraf, do Paquistão, assistiu à partida entre as duas nações com o Primeiro-Ministro indiano, Manmohan Singh.

 

 

As tacadas diplomáticas não foram suficientes para garantir a vitória da paz.

Em novembro de 2008, uma ofensiva terrorista devastou, durante quatro dias, a cidade indiana de Mumbai.

O ataque foi alegadamente perpetrado por uma organização islâmica, que operava a partir do Paquistão.

A resposta diplomática do Governo indiano foi cancelar a digressão da equipa de críquete ao país vizinho.

O regresso às provas

As duas equipas defrontaram-se novamente em 2011, nas semifinais do Campeonato do Mundo.

O Primeiro-Ministro paquistanês, Yousuf Raza Gilani, assistiu à partida com o seu homólogo indiano, Manmohan Singh.

«Cricket has been a uniting factor, it has brought two Prime Ministers together and I dare say that’s a very good beginning» [«O críquete tem sido um fator de união, uniu dois Primeiros-Ministros e atrevo-me a dizer que esse é um bom começo»], afirmou Singh.

A partida foi esfuziante.

A Índia conquistou a vitória, mantendo o seu recorde de invencibilidade perante o Paquistão, em Campeonatos do Mundo.

 

 

Quatro anos depois, Índia e Paquistão voltavam a defrontar-se nesta prova.

A competição passou do campo… para a publicidade.

Nas semanas que antecederam o Campeonato do Mundo de 2015, o canal indiano Star Sports promoveu um anúncio sobre a partida.

Não se ficando, o paquistanês Samaa News, respondeu na mesma moeda.

A rivalidade também já invadiu a dimensão cómica da internet, com a rivalidade a dar origem amemes e cartoons.

A partida, a contar pra o Campeonato de Mundo de Críquete de 2015, conquistou uma audiência histórica, com ambos os países a pararem para assistir ao duelo de titãs.

A Índia manteve o seu recorde vitorioso, derrotando o Paquistão.

A rivalidade, essa permanece, tornando uma partida entre as duas nações num dos mais antecipados e seguidos confrontos desportivos em todo o mundo.

Índia e Paquistão, uma relação feita de altos e baixos.

Uma rivalidade onde o desporto anda de mão dada com a diplomacia.