Fátima, Altar do Mundo

A expressão «Altar do Mundo», relacionada com Fátima, foi-se generalizando através dos anos. Um documentário datado de 1956, realizado por Carlos Marques, já se intitulava Fátima, Altar do Mundo.

A 13 de maio de 1967, durante a primeira visita papal a Fátima, entre a impressionante multidão concentrada na Cova da Iria encontravam-se duas figuras célebres do cinema mundial: a actriz Sofia Loren e o seu marido, o produtor Carlo Ponti.

Duas pessoas entre centenas de milhares que não se limitaram a ver o Papa. Foram ali também para rezar. Sofia e Carlos fizeram um pedido especial à Virgem de Fátima: iam «em busca da graça de um filho», como relatou o Diário de Notícias.

Em janeiro de 2005, outra figura de primeiro plano da Sétima Arte, o actor e realizador Mel Gibson, deslocou-se de propósito ao Carmelo de Coimbra para entregar à Irmã Lúcia uma cópia em DVD do seu filme A Paixão de Cristo. Dois anos antes o cineasta australiano visitara a Cova da Iria, acompanhado pela esposa e pelo padre Luís Kondor, vice-postulador da Causa dos Videntes de Fátima, recolhendo-se ali em oração.

Em 2010, uma actriz e manequim espanhola nascida na Galiza, Olalla Oliveros, sentiu um apelo interior ao visitar Fátima que a fez mudar radicalmente de vida. Tinha 32 anos. Abandonou os estúdios televisivos e as passarelas da moda e tornou-se freira, professando na Ordem de São Miguel Arcanjo.

Corazón Aquino (1933-2009), que gozou de uma popularidade sem precedentes enquanto Presidente das Filipinas, era devota de Nossa Senhora de Fátima e costumava rezar o terço com um rosário que lhe foi oferecido pela Irmã Lúcia, com quem se avistou em 1992, durante uma peregrinação à Cova da Iria que a levou também ao Carmelo de Coimbra, onde dialogou com a vidente.

São exemplos – entre tantos outros que poderiam ser mencionados – da fama mundial de Fátima e da atmosfera de espiritualidade que ali se vive.

Uma fama que há muito ultrapassou as fronteiras portuguesas.

Símbolo da paz

A expressão «Altar do Mundo», relacionada com Fátima, foi-se generalizando através dos anos. Um documentário datado de 1956, realizado por Carlos Marques, já se intitulava Fátima, Altar do Mundo.

Marco fundamental na internacionalização de Fátima foi a mensagem do Papa Pio XII, em 31 de Outubro de 1942: falando em português aos microfones da Rádio Vaticano, o Sumo Pontífice consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria. Correspondendo assim a um pedido de Nossa Senhora feito na aparição de 13 de Julho de 1917, segundo relato da Irmã Lúcia.

A 8 de Dezembro de 1942 – no auge da II Guerra Mundial – Pio XII renovou aquela consagração. Na peregrinação de 13 de Maio de 1946, já terminado o conflito bélico, o Papa fez-se representar na Cova da Iria pelo cardeal carmelengo Benedetto Masella (1879-1970), que presidiu à cerimónia de coroação de Nossa Senhora de Fátima.

Já com essa coroa, que tinha sido oferecida à Virgem por um conjunto vasto de mulheres portuguesas em reconhecimento pelo facto de o nosso país ter sido poupado ao flagelo da guerra, a imagem de Nossa Senhora tomou a configuração que hoje todos lhe conhecemos. Mantendo-se desde então também como símbolo da paz.

Doze viagens

A escultura da Virgem Maria só 12 vezes abandonou Fátima desde que foi esculpida, em 1920. Andou em peregrinação pela Estremadura e Ribatejo em 1946. Depois, entre outubro de 1946 e janeiro de 1947, passou pelo Alentejo e pelo Algarve. Visitou Madrid, entre 22 de maio e 2 de junho de 1948, por ocasião do Congresso Mariano Diocesano ali reunido. De junho a agosto de 1951 percorreu todas as paróquias da Diocese de Leiria. E a 17 de maio de 1959 foi exibida em Lisboa e Almada, coincidindo com a inauguração do monumento a Cristo-Rei. Regressou ali meio século depois.

Foi levada duas vezes ao Vaticano. A primeira vez em março de 1984, a pedido do Papa João Paulo II, que ofereceu ao Santuário de Fátima a bala que quase o vitimou em 13 de Maio de 1981 e que passaria a figurar na coroa da imagem. A segunda vez em outubro de 2000, propositadamente para o Jubileu dos Bispos, ali reunido. Na ocasião, João Paulo II consagrou o novo milénio a Nossa Senhora.

Virgem Peregrina

Para a mundialização de Fátima muito contribuíram as peregrinações da Virgem Peregrina – réplicas da estátua original concebidas com a missão de propagar a imagem de Nossa Senhora através de oceanos e continentes.

Há hoje doze imagens que percorrem o mundo: já estiveram em contacto com milhões de fiéis em 64 países de todas as parcelas do globo – alguns dos quais visitados várias vezes.

A primeira imagem peregrina está entronizada desde 2003 na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, no Santuário de Fátima, e dali só sai em determinadas ocasiões, correspondendo a pedidos muito significativos. Entre Maio de 2014 e Fevereiro de 2015, percorreu os 35 mosteiros de clausura – femininos e masculinos – existentes em Portugal, já no âmbito do centenário das aparições, que ocorrerá em 2017, num total de 3582 quilómetros. Em Maio de 2015 iniciou outra peregrinação, desta vez pelo conjunto das dioceses portuguesas.

Na sua ausência, costuma figurar na basílica a imagem nº 10.

A imagem nº 12 encontra-se desde 2013 no Rio de Janeiro e ali permanecerá até 2017. A imagem nº 8 esteve alguns dias, em 2014, no Instituto Português de Oncologia. Outras andam em viagem contínua: após Portugal, Itália é o segundo país mais visitado pelas imagens peregrinas de Nossa Senhora de Fátima.

Os pedidos chegam de todo o mundo: católicos das mais diversas proveniências querem ver a imagem da Virgem, para o cumprimento de promessas ou orações marianas. Em locais tão diversos como o Líbano ou o México.

Só no ano passado, as imagens percorreram cerca de 85 mil quilómetros. O equivalente a mais de duas voltas ao globo terrestre.

 

Expressão do Céu

«Fátima é no mundo a melhor expressão do Céu»: uma síntese muito sugestiva feita por monsenhor Luciano Guerra, que foi reitor do Santuário de Fátima entre 1973 e 2008.

Em 2014, ali acorreram 3,209 milhões de peregrinos oficialmente registados pelo Santuário. Oriundos de 83 países. Além dos portugueses, destacam-se os visitantes provenientes de Espanha, Brasil, Itália, Polónia e Estados Unidos.

Nem os Papas, habituados a grandes multidões, deixaram de se impressionar com a atmosfera que encontraram na Cova da Iria.

Bento XVI chegou a confessar a D. António Marto, seu anfitrião como bispo de Leiria-Fátima na visita papal de 2010, que “não existe na Igreja celebração ou ambiente espiritual idêntico ao das multidões de Fátima”. A missa celebrada por Bento XVI foi ali acompanhada por cerca de meio milhão de peregrinos.

Com palavras diferentes, mas igualmente impressivas, já se havia pronunciado em 1985 António José Saraiva, um dos maiores pensadores portugueses do século XX: «Fátima é a última das grandes peregrinações da Cristandade ocidental, ainda bem viva».