Urbano Carrasco
Repórter por excelência, mestre do improviso e jornalista-aventureiro, Urbano Carrasco é um dos grandes nomes do Jornalismo português. Durante quatro décadas faz capas do Diário Popular, cobrindo os mais importantes acontecimentos do seu tempo
A 13 de outubro de 1957, o Diário Popular redigia na sua primeira página:
«O Enviado-especial do Diário Popular foi a primeira pessoa a desembarcar na Ilha do Vulcão onde implantou a Bandeira Portuguesa».
No final de setembro de 1957, após meses de sismos, um novo vulcão entrou em erupção junto ao Capelo, na ilha açoriana do Faial.
Nesta altura, o Diário Popular vivia um período áureo, e rivalizava com os jornais mais importantes do país.
Urbano Carrasco era o enviado especial do vespertino. Todos os dias telefonava para a redação com notícias atualizados dos Açores, chegando a cunhar o nome da ilha de areia e cinza formada pelo vulcão, que seria altamente reproduzido por todos os meios de comunicação: a Ilha do Desespero.
As notícias sobre o estado do vulcão variavam de dia para dia. Ao se registar um relato otimista, cientistas e investigadores organizavam uma missão científica à ilha, a bordo do navio-patrulha São Tomé.
Enquanto o vulcão expelia um grande espetáculo de explosões e cinzas, o repórter teve a sua ideia mais ousada de sempre.
Repórter-aventureiro
Ao conhecer Tomás Vargas, proprietário da casa abandonada onde a missão científica se instalara, Urbano Carrasco ouvia do idoso o seu desejo de «colocar a bandeira nacional na ilha».
É então assim que o jornalista decide procurar uma embarcação que o levasse à Ilha do Desespero. Eduíno Labescat, faialense descendente de franceses, prometeu-lhe o barco Quo Vadis, com a condição de se arranjarem quatro remadores, caso o motor falhasse.
Urbano mentiu ao dono da embarcação e disse-lhe que já tinha os quatro remadores, mas, na verdade, só o operador de câmara da RTP, Carlos Tudela, aderira à aventura.
Após uma viagem bastante atribulada, Tudela e Carrasco conseguiram chegar à ilha, e colocar a bandeira de Portugal na areia negra.
Esta proeza, no entanto, não ficaria registada em nenhuma máquina fotográfica ou câmara de filmar: as cinzas e as lamas provenientes do vulcão haviam avariado todos os dispositivos.
Mas a façanha galgava distâncias.
No Rádio Clube de Angra, João Afonso interrompeu a emissão para anunciar que «a ilha já não é só negra. A ilha recebeu as suas primeiras cores: verde e vermelho».
O Diário Popular redigia a sua famosa capa, com a ajuda de uma ilustração do sucedido por Stuart Carvalhais.
A façanha de Urbano Carrasco correu a imprensa e as televisões portuguesas nos dias que se seguiram.
Uma carreira dedicada ao Jornalismo
Urbano Carrasco nasceu na freguesia de Santo Agostinho, no concelho de Moura, no Alentejo, em 1921.
Membro de uma família muito ligada às letras, Urbano seguiria as pisadas do seu tio Urbano Rodrigues, célebre jornalista do Diário de Notícias, e do seu primo Miguel Urbano Rodrigues, também ele jornalista.
O repórter tinha a reputação de improvisar e resolver qualquer situação.
No dia em que os jornalistas portugueses foram convidados pela NATO para uma reportagem a bordo de um porta-aviões, Urbano causou sensação por entrar a bordo com gaiolas cheias de pombos.
À chegada ao destino, os jornalistas precipitaram-se para comunicar às suas redações os seus textos. Urbano não teve de se preocupar: os seus pombos-correio já tinham chegado muito antes à redação do Diário Popular.
Ao serviço do Diário Popular, Urbano Carrasco faria as primeiras páginas durante 40 anos.
Assinou reportagens memoráveis em Angola, Israel, no Vietname e até mesmo na então interdita União Soviética.
Distinguir-se-ia ainda nos conflitos da Índia no Natal de 1961, durante os quais foi feito prisioneiro de guerra num campo de concentração.
Jornalista identificado com o Estado Novo, Urbano Carrasco chegaria a servir de correio ao próprio Salazar durante os conflitos no Congo.
Faleceu na madrugada de 7 de dezembro de 1982.
Urbano Carrasco diferenciava-se dos demais pelas suas capacidades de escrita e, principalmente, pelo seu espírito pragmático.
Foi sobretudo um apaixonado pelo jornalismo, tornando-se um dos principais repórteres da imprensa escrita nacional da segunda metade do século XX.
«Urbano Carrasco foi um extraordinário profissional de Imprensa e um português de grande dimensão moral».
Baptista Bastos