79 – Ucrânia
O cenário mediático da Ucrânia é diversificado, mas permanece em parte nas mãos dos oligarcas, que controlam a maioria das redes de TV nacionais. O setor sofre com o forte impacto da agressão russa, a partir de fevereiro de 2022, que desestabilizou o trabalho das redações, chegando a ameaçar a sua sobrevivência. Nos territórios controlados pelos russos – a Crimeia, anexada em 2014, Donbass e as áreas ocupadas pelo Exército russo em 2022 –, a imprensa ucraniana é silenciada e muitas vezes substituída pela propaganda do Kremlin.
Mesmo antes do confronto militar, a "guerra de informação" com a Rússia mantinha um clima destrutivo na Ucrânia: proibição de imprensa considerada pró-Kremlin por decreto presidencial, restrição de acesso às redes sociais russas... Esta intensificou-se desde a invasão liderada por Moscovo. A imprensa que transmitia a propaganda russa foi bloqueada, enquanto o exército russo alvejava deliberadamente jornalistas, meios de comunicação e infraestruturas de telecomunicações para impedir que a população ucraniana tivesse acesso a informações independentes.
Desde a “Revolução da Dignidade”, em 2014, o país está a adotar uma série de leis sobre transparência da imprensa, acesso à informação e proteção de jornalistas. A criação da emissora pública independente Suspilne, em 2017, foi a mais emblemática dessas reformas. A aprovação, no fim de 2022, de uma nova lei de imprensa, após anos de preparação, tem por objetivo uma harmonização com a legislação europeia. A aplicação da lei marcial traduz-se, por vezes, em restrições ao trabalho informativo dos jornalistas.
A invasão russa fragilizou a economia e fez com que os meios de comunicação sofressem uma perda significativa de assinantes e anunciantes. Somada a outras consequências da guerra, como a destruição, o colapso das cadeias de abastecimento e o exílio forçado de funcionários, essa situação ameaça a sobrevivência de um grande número de meios de comunicação ucranianos. Várias centenas deles já tiveram de fechar, outros reduziram as atividades e colocaram os seus funcionários em licença temporária não remunerada. A imprensa local continua a ser a mais frágil diante desses desafios.
A guerra mudou drasticamente o trabalho dos jornalistas e os temas cobertos por eles. Os ataques russos que acontecem por todo o território transformaram todos em repórteres de guerra. A imprensa ucraniana, contudo, continua a cobrir questões sociais e a desempenhar o seu papel fundamental na denúncia da corrupção das elites do país.
A desigualdade de género na imprensa ainda é um problema, especialmente quando se trata de procurar a opinião de especialistas em determinados assuntos – situação que se agravou depois da invasão russa.