Iraque no corpo da notícia
Uma guerra que revoluciona o mundo e a forma como se faz jornalismo. Os repórteres, agora integrados nas milícias, trocam as armas pelas câmaras. As explosões e os tiros entram nas nossas salas de estar, e uma nova era mediática toma forma: a era do direto veio para ficar.
Na cobertura das guerras mediáticas do século XXI, habituámo-nos a ver o colete azul tão distinto e tão reconhecível da imprensa (press).
Mas a verdade é que os cenários de guerra nem sempre foram tão acessíveis para os jornalistas. Com o avanço das tecnologias e a introdução do direto nos conflitos, havia ainda algo em falta – algo crucial para informar o público sobre a perspetiva da guerra. Cobrir a guerra a partir da incorporação dos jornalistas no exército. Esta forma de fazer jornalismo ganhou a designação de embedded journalism.
Um evento que muda o jogo
Ainda no século XX, nos anos 90, a tensão entre os EUA e o Iraque era de cortar à faca. Com o virar do século, estas pressões estavam longe do fim. Mas nada fazia prever o verdadeiro terror que estava para vir. A 11 de setembro de 2001, o mundo assistia horrorizado ao ataque terrorista da al-Qaeda às torres do World Trade Center em Nova Iorque. A imagem de duas torres a arder numa nuvem de fumo preto e destroços marcaria o século XXI.
Alegando que os Estados Unidos estavam vulneráveis após o ataque terrorista às torres gémeas, George W. Bush virou as atenções para Saddam Hussein, acusando-o de apoiar a al-Qaeda e de continuar a fabricar armas. A prioridade de desarmar o Iraque estava criada. A 17 de março de 2003, o presidente Bush declara o fim da diplomacia e faz um ultimato a Saddam para sair do país. O líder iraquiano recusa-se, e a situação agrava-se.
A 20 de março, os EUA e as forças aliadas (que incluíam o Reino Unido, a Austrália e a Polónia) bombardeiam Bagdad. Num verdadeiro circo mediático, vários jornalistas já tinham partido para Bagdad, à espera que o ataque aéreo começasse. O início da guerra era transmitido em direto para todo o mundo.
Da RTP, Carlos Fino noticiava o bombardeamento em primeira mão a Portugal. «Estão a trovejar sobre Bagdad! Há claramente mísseis no ar. É um trovejar tremendo sobre Bagdad; no entanto as luzes continuam acesas. Os pássaros fogem e silenciam».
Pouco depois do início do bombardeamento aéreo a Bagdad, George W. Bush proferia as seguintes palavras: “The people of the United States and our friends and allies will not live at the mercy of an outlaw regime that threatens the peace with weapons of mass murder. We will meet that threat now, with our Army, Air Force, Navy, Coast Guard and Marines, so that we do not have to meet it later with armies of fire fighters and police and doctors on the streets of our cities.” [O povo dos EUA e os nossos amigos e aliados não vão viver à mercê de um regime criminoso que ameaça a paz com armas de assassínio em massa. Vamos encontrar com essa ameaça agora, com o nosso exército, Força Aérea, Marinha, Guarda Costeira e fuzileiros, para que não tenhamos de encontrá-la mais tarde com exércitos de bombeiros e polícias e médicos nas ruas das nossas cidades]
Entretanto, a notícia do começo da guerra espalhava-se pelos jornais.
Quando o jornalismo tradicional não chega
Contudo, com o estalar da guerra, novos obstáculos impunham-se aos jornalistas. Estes eram submetidos às press pools, um sistema que agrupa um número limitados de órgãos de comunicação e jornalistas que combinam entre si os seus recursos na recolha de informação. As informações são depois distribuídas pelos restantes repórteres e meios.
Através deste sistema, implantado pelas tropas norte-americanas desde 1983, uma questão fundamental colocava-se aos media. Como cobrir um conflito armado em que o acesso à informação era restrito?
Era necessária uma solução que permitisse uma maior liberdade aos jornalistas durante a guerra. Assim, foi introduzida uma nova forma de jornalismo: embedded journalism. Esta prática consiste em incorporar os jornalistas a um dos lados do conflito, sendo-lhes permitido acompanhar as tropas nas zonas de combate.
Se, nestes tempos conturbados, são muitas as questões que se colocam sobre a objetividade dos media, ainda mais argumentos se opõem a esta forma de fazer jornalismo.
Por um lado, o embedded journalism é necessário devido aos perigos de rapto e assassínio que os jornalistas enfrentam com cada vez mais regularidade em cenários de guerra. Por outro, este modo de fazer jornalismo produz uma perspetiva distorcida da guerra.
O argumento utilizado é simples: os jornalistas, ao pertencerem a um dos lados do conflito, ficam limitados a uma única visão da guerra, mais influenciada pela estratégia militar. Para além disso, os desenvolvimentos mais importantes durante um conflito são de natureza política, que acabam por não estar presentes no relato destes jornalistas.
A cobertura feita da guerra do Iraque através do embedded journalism mostrava uma faceta do conflito em nada contaminada, mas muito «higiénica». Nenhuma peça mostrava pessoas a serem abatidas e as imagens, apesar de dramáticas, não eram gráficas.
Entretanto, do lado político, a relação entre os aliados, em especial entre os EUA e o Reino Unido, era bastante satirizada nos media.
Tudo parece correr bem
No decorrer do conflito, as forças da aliança encontraram pouca resistência iraquiana e, a 9 de abril de 2003, os fuzileiros americanos derrubaram uma estátua de Saddam Hussein na Praça Firdos, rodeados de civis iraquianos em festa. O jornal The New York Times citava um iraquiano anónimo em lágrimas: “Touch me, touch me, tell me that this is real, tell me that the nightmare is really over.” [Toca-me, toca-me, diz-me que isto é real, diz-me que o pesadelo acabou mesmo]
Apesar da resistência de alguns grupos isolados de apoiantes de Saddam, as tropas norte-americanas conseguiram conquistar várias cidades no Iraque. A 1 de maio, o presidente Bush anunciava o fim das grandes operações de combate no país, a bordo do porta-aviões USS Abraham Lincoln. Uma faixa com as palavras “Mission Accomplished” [Missão Cumprida] marcaria este célebre discurso de vitória.
No entanto, a situação no Iraque era tudo menos ideal. A violência nas ruas crescia de dia para dia, especialmente contra o novo governo iraquiano e contra as tropas aliadas que ocupavam o território. Em 2004, as perdas norte-americanas rondavam as 1000. Em 2007, o número já ultrapassava as 3000.
As imagens que chegavam dividiam as opiniões dos norte-americanos acerca da nova forma de jornalismo embedded. Enquanto a maioria apoiava esta nova forma de cobrir os eventos, outra parte da opinião pública americana preocupava-se, principalmente, que o embedded journalism fornecesse demasiada informação ao inimigo.
A 3 de julho de 2003, George W. Bush respondia a uma pergunta de um jornalista sobre o eventual apoio de França, Alemanha ou Rússia. “There are some who feel like the conditions are such that they can attack us there. My answer is, bring them on.” [Há pessoas que sentem que as condições são tais que eles conseguem atacar-nos lá. A minha resposta é, eles que venham]
Apesar da opinião favorável de muitos líderes europeus, o consenso geral na Europa e no Médio Oriente definia-se contra a guerra no Iraque.
A opinião pública contra a guerra começava a formar-se a grande escala. Don Rumsfeld, secretário da Defesa, argumentava, em abril de 2003, que a população recebia informação da guerra «em fatias». De facto, a cobertura focava-se muito no combate, e era caracterizada por diretos e peças sem trabalho de edição, ricas em pormenores.
Mais uma vez, o foco estratégico da guerra que o embedded journalism mostra é posto em causa. Até que ponto é legítimo informar o público sobre um conflito armado sem desvendar toda a estratégia militar das tropas? E, de acordo com o número crescente de mortes, os EUA aparentavam estar a perder a guerra.
Do lado dos jornalistas, contudo, esta nova forma de jornalismo constituía-se como uma revolução e uma mais-valia na cobertura mediática da guerra. Não era a primeira vez que os repórteres teriam acesso ao campo de batalha, mas era a primeira vez que se podia falar com eles e vê-los, em direto.
Era reportada uma nova perspetiva sobre a vida na frente de batalha, num tipo de cobertura altamente tecnológica nunca antes vista. O fascínio assomava-se à medida que o público descobria as refeições prontas a comer, os buracos feitos na areia para se dormir e a vida dentro dos tanques.
O conflito adensa-se
A 13 de dezembro de 2003, Paul Bremer, administrador da Autoridade Provisória da Coligação no Iraque, proferia as célebres palavras: “Ladies and gentlemen, we got him.” [Senhoras e senhores, apanhámo-lo]. Saddam Hussein era capturado.
O frenesim mediático foi instantâneo. Para além do número crescente de capas, as primeiras imagens do ex-líder iraquiano enquanto prisioneiro, bem como o seu exame médico, são divulgadas.
A 18 de outubro, Osama Bin Laden, o grande orquestrador do ataque ao World Trade Center, envia um vídeo endereçado ao povo iraquiano, que é divulgado pela Al Jazeera. O homem mais procurado do mundo continuava a monte.
“Any government set up by America will be a puppet and traitorous regime (…) Moreover, they have had a budget deficit for the third consecutive year. This year, the deficit reached a record peak of more than US $4.5 billion. Praise be to Allah.” [Qualquer governo estabelecido pela América será uma marionete e um regime traidor (…) Além disso, eles têm tido um deficit no orçamento pelo terceiro ano consecutivo. Este ano, o deficit atingiu um recorde de mais de 4.5 mil milhões de dólares. Louvado seja Alá]
Em março de 2004, cerca de 180 xiitas são assassinados num ataque suicida a santuários em Bagdad e Karbala. Os líderes religiosos acusam as tropas americanas de permitirem a concretização do massacre.
À medida que a situação se agravava no Iraque e as perdas americanas aumentavam, continuavam a não haver vestígios de armas nucleares. A opinião pública americana começava a criticar a administração de Bush.
As imagens e notícias de soldados americanos a maltratar iraquianos na prisão Abu Ghraib veio em muito contribuir para esta mudança de opinião pública. Por todo o mundo ouviam-se protestos contra o comportamento das forças americanas no Iraque. A ideia inicial de libertar o Iraque, que despoletou a guerra, começou a desvanecer-se.
Entretanto, o governo norte-americano cria uma comissão de investigação para analisar os ataques de 11 de setembro. Em julho de 2004, a comissão conclui que não havia provas que corroborassem a relação entre o governo de Saddam e a al-Qaeda. Uma das principais razões para os EUA iniciarem a guerra com o Iraque tinha caído por terra e deixado de ser válida.
Rapidamente o falhanço dos EUA em encontrar armas de destruição no Iraque, assim como a decisão de se entrar em guerra, começaram a liderar os debates políticos nos EUA.
A 16 de setembro, o The New York Times reporta que o Conselho Nacional dos Serviços Secretos dos EUA enviara um relatório pessimista a George W. Bush, alertando para a possibilidade de uma guerra civil no Iraque. Os media começavam a lançar dúvidas para o ambiente cada vez mais tenso.
“But for the President to accuse the press and others for being pessimistic, which he does commonly in his speeches isn't that disingenuous when there's reports from NIA which paint these sort of scenarios?” [Mas para o presidente acusar a imprensa e outros por serem pessimistas, como ele tão frequentemente faz nos seus discursos, não é insincero quando há notícias da NIA que pintam este tipo de cenários?]. A pergunta provinha de um jornalista e era dirigida a Scott McClellan, o secretário de imprensa da Casa Branca.
No segundo aniversário da queda de Saddam Hussein, em abril de 2005, milhares de iraquianos juntam-se numa manifestação pacífica a pedir a retirada das tropas americanas e que os prisioneiros iraquianos sejam libertados.
Meses mais tarde, o Governo norte-americano começava a ceder à pressão e a contradizer-se. A 27 de junho de 2005, Donald Rumsfeld dava uma entrevista à Fox News, admitindo que os EUA não iriam ganhar a guerra. “We're not going to win against the insurgency. The Iraqi people are going to win against the insurgency. That insurgency could go on for any number of years...five, six, eight, 10, 12 years.” [Não vamos ganhar contra a insurgência. O povo iraquiano vai vencer a insurgência. Essa insurgência pode continuar por qualquer número de anos… cinco, seis, oito, dez, doze anos]
A partir daqui, o aparato sustentado pelo Governo cairia por terra. A 14 de dezembro de 2005, o presidente Bush admite a falha dos EUA no Iraque. “It is true that much of the intelligence turned out to be wrong. As President, I'm responsible for the decision to go into Iraq — and I'm also responsible for fixing what went wrong by reforming our intelligence capabilities.” [É verdade que muito dos Serviços Secretos se veio a provar errado. Como presidente, sou responsável pela decisão de invadir o Iraque – e também sou responsável por remediar o que correu mal através da reforma das capacidades dos nossos serviços secretos]
A 7 de junho de 2006, Abu Musab al-Zarqawi, o líder da campanha de insurgência iraquiana da al-Qaeda, é assassinado num ataque aéreo levado a cabo pelas forças iraquianas e americanas. Zarqawi era responsável por grande parte da violência sentida durante a guerra, e procurou dividir os sunitas e xiitas para prolongar o conflito.
Em setembro de 2006, o jornal The New York Times divulga os pormenores de um relatório secreto dos serviços secretos dos EUA, que garantia que “the Iraq war has made the overall terrorism problem worse.” [a guerra do Iraque tem agravado o problema do terrorismo]
Entretanto, a questão sobre o embedded journalism volta a vir à tona. Quando a CNN transmite uma peça que mostra um grupo de insurgentes a abrir fogo sobre as tropas norte-americanas, a estação televisiva é acusada de disseminar propaganda contra o inimigo.
Com o cenário cada vez mais negro para os EUA, em novembro de 2006, o secretário da Defesa Donald Rummsfeld demite-se.
No mês seguinte, Saddam é executado. Um vídeo gravado através de um telemóvel é divulgado e chega aos media. A execução causa muita controvérsia. Em parte, devido à divulgação do vídeo, e também devido à data da execução: um importante feriado muçulmano celebrado pelos sunitas. A morte apressada e violenta de Saddam Hussein torna-o num mártir árabe para muitos no Médio Oriente.
Plano B
Pouco depois de um mês do anúncio do Grupo de Estudo do Iraque ter revelado que a situação no país é «grave e a deteriorar-se», George W. Bush anuncia a mudança de estratégia militar do governo. “America will change our strategy to help the Iraqis carry out their campaign to put down sectarian violence and bring security to the people of Baghdad. (…) So I've committed more than 20,000 additional American troops to Iraq.” [A América vai mudar a nossa estratégia para ajudar os iraquianos a levar avante a sua campanha para pôr um fim à violência sectária e trazer segurança ao povo de Bagdad. (…) Então, eu comprometi-me a enviar mais de 20.000 tropas americanas adicionais para o Iraque]
E rapidamente o novo plano de Bush enchia as manchetes dos jornais norte-americanos.
Em maio de 2007, George W. Bush veta, pela segunda vez no seu mandato enquanto presidente, a legislação do Congresso a estabelecer a retirada das tropas americanas do Iraque até dia 1 de outubro. Uma sondagem feita pela CNN revela que 54% dos americanos estava contra o veto, e uma semana depois, 144 legisladores iraquianos assinam uma petição a pedir um prazo para a retirada das tropas americanas do Iraque.
Em junho de 2007, o ministro iraquiano do Interior declara que o número de corpos descobertos em Bagdad aumentou de 441 em abril para 726 em maio. Entretanto, os militares americanos mudavam as suas alianças, fornecendo armas a alguns grupos árabes sunitas que combatiam contra as tropas americanas.
A 26 de junho, a CNN anuncia que mais de 70% dos americanos dizia estar contra a guerra, além de 38% de republicanos que se opunham ao conflito.
A 11 de setembro de 2007, o General David Petraeus reporta o progresso da nova estratégia militar no Iraque. Quando perguntado pelo Comité dos Serviços Armados do Senado se a guerra do Iraque está a tornar a América mais segura, o general responde: “I don't know, actually.” [Eu realmente não sei]. Dias mais tarde, o presidente Bush anuncia uma redução de tropas no Iraque até julho de 2008.
Em 2008, a campanha presidencial aproximava-se. Hillary Clinton, senadora de Nova Iorque, afirma num debate democrático na Carolina do Sul que traria para casa as tropas americanas dentro de 60 dias. O senador John Edwards ataca Clinton e Barack Obama, o então senador de Illinois. Obama responde: “I want to be as careful getting out as we were careless getting in.” [Eu quero ser tão cuidadoso a sair como fomos tão descuidados a entrar]
Entretanto, a situação no Iraque continua a intensificar-se. A 7 de fevereiro de 2008, as forças americanas e iraquianas divulgam imagens de crianças a serem treinadas e armadas pela al-Qaeda. No mesmo dia, Angelina Jolie, enquanto embaixadora da boa-vontade do Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas, visita o país, onde cerca de 4.2 milhões de residentes fugiram das suas casas.
E a máquina mediática continuava bem oleada. As capas da imprensa a questionar o governo e toda a guerra proliferavam, tornando a guerra do Iraque no conflito mais mediático de sempre.
Em setembro de 2008, as forças americanas fazem algum progresso e ocupam a província Anbar, entregando o controlo da segurança da região à polícia iraquiana. No entanto, o General David Petraeus recusa a chamar a este avanço uma vitória: “This is not the sort of struggle where you take a hill, plant the flag and go home to a victory parade.” [Esta não é o tipo de luta em que se toma uma colina, planta-se uma bandeira e vamos para casa numa marcha de vitória]
Em outubro de 2008, as tropas americanas atacam um edifício na fronteira do Iraque com a Síria, matando 8 pessoas. A Síria alega que os mortos eram civis, enquanto os militares americanos defendem que eram todos militantes, incluindo um líder da al-Qaeda no Iraque.
Entretanto, milhares de pessoas juntam-se numa manifestação contra o ataque americano em Damasco. Os media ocidentais reportam que as pessoas a protestar fazem parte de um evento ensaiado pelo governo sírio.
O fim vislumbra-se no horizonte
Em novembro de 2008, Barack Obama ganha as eleições. O novo presidente cumpre a promessa de acabar com a guerra no Iraque, e é acordado com o governo iraquiano que as tropas americanas podem ficar até 31 de dezembro, a data de fim do mandato das Nações Unidas. Ficou ainda acordado que, a partir de 2009, as tropas americanas ficariam de se retirar até 2011.
No mesmo mês, foi lançada, em Nova Iorque e outras cidades americanas, um jornal falso do The New York Times, com uma capa sonante a informar que a guerra tinha acabado. A iniciativa foi levada a cabo por um promotor de filmes, três funcionários do Times e um professor de arte.
A 14 de dezembro de 2008, na sua última visita a Bagdad, George Bush torna-se um alvo fácil do jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi, que lhe atira os seus sapatos – um gesto considerado muito desrespeitoso no Médio Oriente – gritando “This is a gift from the Iraqis; this is the farewell kiss, you dog!” [Este é um presente dos iraquianos; isto é um beijo de despedida, seu cão!]
A 27 de fevereiro de 2009, Barack Obama anuncia o seu plano da retirada de tropas americanas do Iraque. “What we will not do is let the pursuit of the perfect stand in the way of achievable goals. We cannot rid Iraq of all who oppose America or sympathize with our adversaries. We cannot police Iraq's streets until they are completely safe, nor stay until Iraq's union is perfected...” [O que nós não iremos fazer é deixar que a procura pela posição perfeita se meta no caminho dos objetivos alcançáveis. Não podemos livrar o Iraque de todos os que se opõem à América ou simpatizar com os nossos adversários. Não podemos policiar as ruas do Iraque até estarem completamente seguras, nem podemos ficar até que a união do Iraque seja perfeita…]
A retirada das tropas americanas estende-se por 19 meses, e não em 16 meses, como Obama anunciara. Além disso, o presidente evita dizer se os EUA venceram a guerra do Iraque, sublinhando apenas que não quer pensar no passado.
Mas a violência continua
Contudo, a violência em Bagdad volta a despontar. Em março de 2009, insurgentes realizam um ataque-suicida, ceifando a vida a mais de 60 pessoas.
A 7 de abril, Obama faz uma visita surpresa às tropas americanas no Iraque. O presidente diz aos jornalistas que, enquanto pensa numa solução para o Afeganistão, não quer que os americanos esqueçam o que ainda falta fazer no Iraque.
Em junho de 2009, as tropas americanas começam a retirar-se do Iraque. Nuri al-Maliki, o primeiro-ministro iraquiano, celebra o evento, declarando-o o Dia da Soberania Nacional. Mas a retirada dos americanos não seria um processo fácil. Vários confrontos são despoletados por todo o Iraque, acabando em consequências desastrosas. O governo iraquiano aumenta os seus esforços para combater os insurgentes, lançando várias operações antiterror.
No final de dezembro de 2009, os legisladores iraquianos arranjam um acordo que permite a realização de eleições no início de 2010. Os militares americanos, que cronometravam a sua saída com as eleições, receberam a notícia com alívio.
Em março de 2010, as eleições no Iraque realizam-se, dando a vitória ao então primeiro-ministro Nuri Kamal al-Maliki. As eleições foram consideradas um marco histórico nos planos da retirada das tropas americanas do Iraque.
Contudo, os problemas não paravam aqui. Em outubro de 2010, a Wikileaks publicou online cerca de 400.000 documentos secretos do exército americano .Os documentos não mudaram a opinião geral que o público retinha da guerra, mas revelaram que as perdas civis eram mais altas do que o número divulgado publicamente, e que as forças americanas ignoraram o recurso à tortura pelas forças de segurança iraquianas.
Em julho de 2011, os militares americanos anunciaram que o Iraque e os EUA se encontravam em negociações para manter vários milhares de tropas americanas no Iraque depois de dia 31 de dezembro. No entanto, ambas as partes não conseguiram chegar a um acordo, e em outubro Barack Obama revela que os 39.000 soldados ainda em território iraquiano iriam sair do país até ao final do ano.
O exército americano declarou formalmente o fim da missão no Iraque numa cerimónia em Bagdad a 15 de dezembro.
A guerra do Iraque seria o grande conflito do século XXI. Ao decorrer numa era caracterizada pela tecnologia, o conflito ficaria conhecido por «guerra das coberturas jornalísticas», e iria celebrizar repórteres e cinegrafistas.
O colete «press» à prova de bala marcaria um confronto e o mundo jornalístico. A necessidade de melhor informar o público falou mais alto.