José Saramago

Apesar de nunca se ter considerado jornalista, Saramago passa por vários jornais. A estreia como redator é na revista Seara Nova. Depois ingressa sucessivamente nas redações do Diário de Lisboa, d’A Capital, do Jornal do Fundão e do Diário de Notícias onde, depois de deixar o Jornalismo, continua a colaborar com artigos e colunas de opinião​

Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, Ribatejo, a 16 de novembro de 1922, se bem que o registo oficial mencione como data de nascimento o dia 18. Veio viver para Lisboa ainda antes dos dois anos.

Ingressou nos estudos secundários que, por dificuldades económicas, não conseguiu prosseguir. O seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois diversas profissões: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista.

 

 

Durante doze anos trabalhou numa editora, onde exerceu funções de direção literária e de produção. Casou com Ilda Reis em 1944, com quem teve uma filha, Violante dos Reis Saramago.  Publicou o seu primeiro livro, o romance Terra do Pecado, em 1947, tendo estado depois largos anos sem publicar (até 1966). Colaborou ainda com diversas publicações importantes do panorama mediático português. Teve a sua primeira experiência como crítico literário na revista Seara Nova, em 1968.

 

 

A entrada no Partido Comunista Português deu-se em 1969, a convite de Augusto Costa Dias, diretor da Portugália Editora. 

 

 

Em 1972 e 1973, fez parte da redação do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento cultural daquele vespertino.

 

 

Da sua passagem pelo Diário de Lisboa ficou um conjunto precioso de editoriais magistralmente escritos e jornalisticamente rigorosos. Textos que estão publicados em livro sob o título As Opiniões que o DL Teve e que enobrecem o jornalismo português.

O seu percurso jornalístico pode ser dividido em duas fases, coincidindo com dois momentos históricos diferentes.

A primeira fase, n’A Capital e no Jornal do Fundão, ocorre durante o marcelismo. Aqui, e de 1968 a 1972, escreveu sobre as suas memórias, incluindo as viagens que fez, e sobre temas soltos. Também escreveu sobre política, o que chamou a atenção da censura. No seu livro Os Apontamentos, Saramago refere: «entre os artigos, alguns há que, redigidos na altura, apenas agora veem a luz do dia: facto não precisa de explicação».

A segunda fase, que coincide com a desagregação da ditadura e os momentos mais agitados da Revolução, é mais complexa. Saramago envereda abertamente por um jornalismo interventivo, político. A sua experiência no Diário de Notícias (entre abril e novembro de 1975) é marcada por um (ainda hoje) polémico episódio que culminou no despedimento de 24 jornalistas.

A entrada no Diário de Notícias dá-se em pleno «gonçalvismo», quando Vasco Gonçalves chefiava os primeiros Governos provisórios e mudou a administração do jornal, nomeando Luís de Barros diretor e José Saramago adjunto.

«No início, não mexeu muito na redação e havia até pessoas de direita que eram enviadas ao Parlamento para cobrir a Constituinte», lembra José David Lopes, ex-jornalista do DN.

 

 

Mas «o clima político começou a ficar muito extremado, a redação profundamente dividida e aí as coisas começaram a agudizar-se, com um maior intervencionismo da direção».

Como recorda o escritor e jornalista Mário Zambujal - então no DN - «a verdade é que apesar de ser o Luís de Barros o diretor, era o Saramago que mandava».

Durante o “Verão Quente” de 1975, o periódico era o diário com maior circulação nacional, com tiragens diárias superiores a 100 mil exemplares.

Saramago pretendia que o DN fosse «um instrumento nas mãos do povo português, para a construção do socialismo» e que quem não estivesse «empenhado neste projeto» seria melhor «abandonar o Diário de Notícias».

A nova direção prometia, num artigo publicado na primeira página logo a seguir à tomada de posse, «servir o Povo Português e a verdade, contra os inimigos do Povo Português e a mentira», recusando, por isso, subjugar-se a «interesses particulares».

Um grupo de jornalistas - metade da redação - entrega então à direção um abaixo-assinado em que exige uma mudança de ideologia editorial. Um dia depois, o abaixo-assinado aparece publicado no Expresso. É decidida a suspensão dos 24 jornalistas.

«O diário é do povo, não é de Moscovo!» ouviu-se, à porta do Diário de Notícias, em frequentes manifestações.

 

O escritor só voltaria ao DN 23 anos depois, já laureado, a convite do então administrador Luís Silva e do diretor Mário Bettencourt Resende. Colaborou ainda através do seu «Caderno de Saramago», coluna diária que assinou ao longo de 2009.

 

 

 

Apesar da vasta colaboração com jornais, José Saramago nunca se considerou um jornalista.

«(…) eu nunca fui jornalista, não fiz uma entrevista, não fiz uma reportagem, não descrevi um acidente de rua… não fiz rigorosamente nada daquilo que é, digamos assim, tarimba de jornalista. (…) Se para ser jornalista basta ter trabalhado num jornal, então, sim, fui jornalista, mas não é assim».

 

A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Casou com Pilar del Río em 1988 e, em fevereiro de 1993, decidiu repartir o seu tempo entre a sua residência habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha). Em 1998 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura.

 

 

 

 

Saramago teve um papel fundamental no efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.

O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, e lançado em 2008.

 

 

 

 

José Saramago morreu no dia 18 de junho de 2010, em Espanha. As cinzas do escritor estão depositadas perto da Fundação com o nome do escritor, na Casa dos Bicos, em Lisboa.