Luís Paixão Martins
A mão por detrás do arbusto
Vivemos na era das “fake news”. A nossa paisagem comunicacional está impregnada de notícias, declarações e fotografias falsas.
Muitas vezes só o olhar clínico dos especialistas consegue detetar o artifício das informações que circulam potenciando a capacidade de propagação de um espaço mediático sem a vigilância dos chamados “gatekeepers” do século passado.
A manipulação não é, no entanto, algo de novo. Desde que a Imprensa se industrializou e os Media tomaram a maior relevância social foram sendo criados mecanismos e estratégias de comunicação com o objetivo de conduzir as massas para determinados comportamentos e objetivos. E, apesar do ressoar quase sempre negativo de termos como propaganda, narrativa, publicidade e promoção, em muitos casos tal foi feito com a melhor das intenções.
A partir de Outubro vamos ter, no NewsMuseum, um novo espaço expositivo digital dedicado à história recente da manipulação. Vamos apresentar um roteiro dos seus génios e diabos.
Referenciamos Sigmund Freud, como o cientista que teorizou sobre as energias motivacionais que estão na origem das formas de manipulação mais sofisticadas do séc. XX, assim como o seu sobrinho, Edward Bernays, o pai das “Public Relations” modernas que defendia a ideia de que “as élites devem organizar o caos” através da comunicação.
Invocamos Paul Joseph Goebbels, o ministro nazi da propaganda que foi pioneiro na aplicação das então novas teorias da mobilização das massas - a manipulação do medo. E António Ferro, a personagem maior do aparelho ideológico do Estado Novo.
Apresentamos David Sawyer e Scott Miller, os estrategas de campanhas eleitorais nos EUA que marcaram a diferença e que exportaram o modelo de propaganda política norte-americano para diversos países, em todo o mundo, a par de Charles e Maurice Saatchi, atores do marketing político moderno, Dick Morris, Alastair Campbell, Karl Rover, Philipe Gould, Mark Penn.
A nossa exposição focará ainda George Gallup, que criou as primeiras metodologias para pesquisa dos hábitos e motivações, David Ogilvy, um dos mais célebres “mad men” dos anos de ouro da publicidade, Julian Assange, autor das maiores fugas de informação das últimas décadas, e Noam Chomsky, o grande denunciante das práticas de manipulação das massas.
São estes os génios, por vezes do bem, muitas vezes do mal, da propaganda do século passado que terão relevo acrescido no NewsMuseum. Mas, no mesmo espaço, também destacaremos o grande manipulador deste início do séc. XXI - o anónimo.
Todos os dias, a toda a hora, somos manipulados por milhões e milhões de anónimos, dos amadores bem intencionados (provavelmente também eles vítimas de uma qualquer manipulação) aos profissionais remunerados.
No território da web e dos media sociais, os micro-influenciadores substituem os “gate keepers”, os “bots” substituem os líderes de opinião e as narrativas fabricadas propagam-se muito mais que os factos, propagam as “fake news”.
A manipulação, é um facto, evolui mais depressa que a inteligência dos humanos.
