1981

04/27/1981

ATENTADOS AO PAPA E AO PRESIDENTE DOS EUA

Com a morte do primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro no mês anterior, tomou posse logo no início de janeiro o VII Governo constitucional, chefiado por Francisco Pinto Balsemão. No Expresso, Marcelo Rebelo de Sousa assumia funções de diretor efetivo.

No primeiro semestre assistiu-se a vários acontecimentos internacionais dramáticos. Logo em janeiro foram libertados 52 norte-americanos que tinham sido mantidos como reféns durante 444 dias na embaixada dos Estados Unidos no Irão, ocupada por um grupo de estudantes e de militantes islâmicos na sequência da tomada do poder pelo aiatola Khomeini, em 1979.

No mês seguinte, aqui ao lado, o tenente-coronel da Guarda Civil António Tejero Molina entrou no Parlamento espanhol de pistola em punho, à frente de 200 homens, sequestrando os deputados durante um dia e uma noite. A tentativa de golpe de Estado, que ficou conhecida como o 23-F (23 de fevereiro), falhou.

Pouco mais de um mês depois registar-se-ia um atentado contra o Presidente dos Estados Unidos. Ao sair de um hotel de Washington onde tinha discursado numa conferência, Ronald Reagan foi atingido a tiro por um atirador isolado, com problemas de ordem psíquica.

E, cerca de um mês depois, novo atentado inquietava grande parte do mundo: o Papa João Paulo II era atingido a tiro na Praça de São Pedro, sobrevivendo após delicada operação.

Por cá, viviam-se já problemas que continuam atuais — e hoje mais graves. Um deles era a seca, anunciando o Expresso que Balsemão ia fazer até uma comunicação ao país depois da reunião do Governo em que seriam decretadas medidas. O Fundo Monetário Internacional voltou, para preparar novo “pacote de ajudas”, e o correspondente apertar do cinto, com o Governo a garantir que ia conter a inflação anual nos 18,5%.

Datam deste ano as primeiras “borlas” na Ponte 25 de Abril. Nos domingos de julho e agosto quem quisesse entrar em Lisboa não pagava portagem. Em Nova Iorque foi descoberta uma “doença estranha”, que atingia sobretudo a comunidade homossexual – era a sida – e grande parte do mundo assistiu em direto a um conto de fadas, o casamento do Príncipe Carlos com Diana Spencer.

No Expresso, o ano foi de muitas novidades. No fim de janeiro, “atento ao Norte do país e, em muito especial, ao Porto”, arrancava “com uma delegação permanente, envolvendo um correspondente exclusivo”.

Em fevereiro anunciava uma remodelação, no âmbito da qual o escritor Vergílio Ferreira inaugurava uma nova secção, “Crónicas”. Duas semanas depois, passava a publicar na primeira página uma crónica de António Barreto.

Em meados de março, numa iniciativa inédita, eram inaugurados no restaurante Pabe (quase ao lado do jornal) os famosos “almoços no Pabe”: todas as terças-feiras o Expresso convidava para almoçar uma figura em destaque no meio político, económico e social, que era entrevistada durante o repasto. Os outros comensais do dia recebiam uma ementa autografada pelo convidado. O primeiro entrevistado foi o ex-primeiro-ministro Adelino da Palma Carlos.

Datam também de 1981 as duas “incursões” do Expresso na rádio. A primeira foi uma colaboração Antena 1/Expresso para um programa semanal de uma hora às sextas-feiras à noite, em junho, julho e agosto. A outra, lançada no mês seguinte, era um programa bissemanal na Rádio Comercial chamado “Expresso da Meia-Noite” (quartas e sábados).

Ontem como hoje, não paravam entretanto de aumentar os preços dos bens alimentares de primeira necessidade. Em janeiro, o aumento médio seria de 17%, dizia o Expresso na última edição do ano.

 

Expresso 1981