2014
A QUEDA DE SÓCRATES E DE SALGADO
Em 2014, nenhum acontecimento nacional parecia poder competir com a queda do Banco Espírito Santo e de Ricardo Salgado, em virtude de uma “gestão ruinosa”. Em agosto, Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, anunciou um resgate do BES no valor de €4900 milhões. Foi criado o Novo Banco, para onde foram transferidos os ativos não-tóxicos do BES. Era o início da queda do banqueiro também conhecido como o “dono disto tudo”. Fernando Ulrich dizia no Expresso: “Vai ser preciso reunir historiadores, economistas e psiquiatras para perceber o caso BES.”
O que poderia competir com isto? “Sócrates detido por suspeita de corrupção”, titulou o Expresso. “Ex-primeiro-ministro detido à chegada de Paris. Corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal na mira da PGR.”
Perante a queda de Salgado e Sócrates, pareceu um assunto menor a fotografia e o título de 3 de maio: “Quinta-feira, 19h: o Expresso esteve na última reunião da troikacom o Governo.” A troikaestava de saída, a vida continuava difícil (“Salário mínimo mais baixo do que em 1974”), e toda a gente aderiu à Fatura da Sorte, uma ideia do Governo de sortear automóveis pelos consumidores que pedissem fatura com número de contribuinte, para combater a fuga aos impostos.
Outra causa nacional foi evitar a tentativa de leilão na Christie’s de 85 obras de arte de Juan Miró que fizeram parte dos bens do Banco Português de Negócios (BPN) e que passaram para posse do Estado com a nacionalização.
Nas eleições europeias de 2014 venceu o PS com Francisco Assis a cabeça de lista. Mesmo com essa vitória, Seguro é contestado internamente. “Foi poucochinho”, disse António Costa, acelerando a sucessão. Seguro quis eleições primárias, que perdeu para o então presidente da Câmara de Lisboa.
Mudanças também à esquerda: João Semedo sai da liderança do Bloco de Esquerda (viria a falecer em 2018) mantendo- se sozinha no cargo Catarina Martins.
Durão Barroso terminou a sua presidência da Comissão Europeia dando lugar ao luxemburguês Jean-Claude Juncker.
Em 2014, o Expresso publicou várias reportagens sobre jovens portugueses que se converteram ao islamismo e foram combater para a Síria integrados no Estado Islâmico. “Portugueses na fação mais radical da jihad”, escrevemos. Mais terrível foi a manchete “Jihadistas portugueses envolvidos nos vídeos das decapitações”, referindo-se ao infame “Jihadi John” que surgiu em vários vídeos a decapitar prisioneiros, como o fotojornalista norte-americano James Foley.
Também tivemos enviados especiais à Ucrânia, onde aconteceu uma revolução que tirou do poder Viktor Yanukovych, que se refugiou na Rússia. Putin acabou por invadir a Crimeia e promoveu um referendo que resultou na secessão desta região e na sua transformação num protetorado russo. Durante este conflito, o voo Malaysia Airlines 17, que viajava de Amesterdão para Kuala Lumpur, foi derrubado por um míssil lançado do leste da Ucrânia por russos e separatistas, causando a morte de 298 pessoas.
Ano terrível para a Malaysia Airlines, pois também o voo MH 370, entre Kuala Lumpur e Pequim, desapareceu dos radares quando sobrevoava o Golfo da Tailândia. Nunca mais seria encontrado, tendo os 227 passageiros e 12 tripulantes sido dados como mortos. A operação de resgate foi a maior de sempre, mas o desaparecimento continua a ser um mistério.
Susto com o surto de ébola na África Ocidental, que levou à declaração internacional de emergência de saúde pública, e fez mais de 11 mil mortos.
Felipe VI foi proclamado rei de Espanha. O pai abdicou na sequência de várias polémicas como a participação numa caçada a elefantes no Botsuana e relações extraconjugais.
Em julho, numa cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a Guiné Equatorial foi aceite como membro de pleno direito.
No Brasil começava a Operação Lava Jato, que iria levar a detenções de políticos e empresários, entre os quais o ex-Presidente Lula da Silva, em 2018. O Brasil também acolheu o Mundial de Futebol, onde Portugal foi eliminado na fase de grupos. Paulo Bento aguentou-se pouco mais tempo como selecionador, dando lugar a Fernando Santos.
Morreram Gabriel García Márquez, Vasco Graça Moura, Richard Attenborough, Joe Cocker, Paco de Lucía, Mário Coluna, Eusébio (cujo corpo seria transladado para o Panteão Nacional)…
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