1993
GERAÇÃO RASCA
Hoje pode parecer difícil de acreditar mas foi neste ano ainda não tão longínquo que telemóveis de redes diferentes passaram a poder “falar” entre si. “Com o seu telemóvel x transfira chamadas para outros telemóveis ou telefones da rede fixa”, rezava um anúncio publicado na primeira página.
Mas há 30 anos também se publicavam notícias que hoje estão tão atuais como então. Como as 24 horas da edição de 13 de março que começava assim: “As chuvas torrenciais de ontem em Lisboa provocaram várias inundações...”
Um dos acontecimentos do ano em que abriu ao público o Centro Cultural de Belém foi a detenção nos Estados Unidos do corretor Pedro Caldeira, procurado pelo desvio de 3,7 milhões de contos [€18,5 milhões] e em fuga há oito meses. Foi apanhado pelo FBI no quarto 4130 de um hotel de Atlanta. “Chorou depois de detido”, noticiava o Expresso na primeira página.
Outro foi a decisão do Ministério da Educação de os alunos da escolaridade obrigatória deixarem de reprovar por faltas. Entretanto, a sida subia em flecha em Portugal e a Polícia Judiciária pedia ajuda ao FBI para descobrir o estripador de Lisboa, que matou e estripou várias prostitutas sem nunca ser descoberto.
No hospital de Évora registou-se uma falha que abalou a sociedade e o Governo: o elevado teor de alumínio na água fez mais de uma dezena de mortos entre doentes que lá faziam hemodiálise.
No Aquaparque, um recinto de diversões aquáticas junto ao Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, duas crianças de 9 anos eram sugadas pelas tubagens de uma piscina, um caso que provocou grande comoção nacional. O parque nunca mais abriu.
O padre Frederico é condenado a 13 anos de prisão pela morte de um jovem de 15 anos na Madeira. Em 1998 aproveitou uma saída precária e fugiu para o Brasil, onde vive desde então.
No dia 16 de abril registou-se o episódio fundador daquilo que ficaria conhecido como “geração rasca”: o discurso do ministro da Educação, Couto dos Santos, no CCB, no fim do Congresso do Ensino Superior, foi interrompido por um grupo de estudantes que, em protesto contra o aumento das propinas, subiram para cima de cadeiras, despiram as calças e mostraram as nádegas, onde tinham escrito “não pagamos”.
De política nacional, quatro notas relativas a 1993. O Presidente Mário Soares recusou-se a apertar a mão ao ex- -Presidente (e então CEMGFA) Augusto Pinochet durante uma visita oficial ao Chile; a imprensa portuguesa fez um boicote à informação parlamentar, em protesto contra um novo regulamento que limitava o acesso aos deputados; um documento da Procuradoria-Geral da Federação Russa exigia a devolução dos fundos que os partidos comunistas, incluindo o português, tinham recebido nas décadas anteriores (“exportação ilegal de divisas”, considerara o Tribunal Constitucional russo); eleições autárquicas, em dezembro.
Quanto ao Expresso, fez um concurso para escolher a melhor frase sobre o jornal. Ganhou um leitor do Porto (“O Expresso é o melhor jornal porque ninguém o consegue meter no bolso”), que recebeu um carro de uma das mais conceituadas marcas da altura.
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