1992
ESTOURO DE PEDRA CALDEIRA
Este foi o ano em que Portugal teve pela primeira vez a presidência da CEE, em que dezenas de investidores ficaram “a arder” com milhões de contos que tinham posto nas mãos do corretor Pedro Caldeira (que abriu falência e desapareceu) e em que o Governo ficou no centro de nova contestação por causa da mudança de data dos feriados móveis, para evitar “pontes”. A medida não chegou a avançar.
Do estrangeiro, eclodiu a guerra na Bósnia, Los Angeles esteve durante semanas a ferro e fogo, em motins que fizeram dezenas de mortos, e no fim do ano o regime angolano chacinou dezenas de membros da UNITA em Luanda. Na costa oposta de África, em Moçambique, as coisas pareciam correr melhor: o Presidente moçambicano, Joaquim Chissano, e o líder da resistência nacional de Moçambique (Renamo), Afonso Dhlakama, tiveram um encontro de paz histórico em Roma.
Por cá, logo em janeiro, o PSD expulsou um deputado, que tinha enviado ao presidente do Parlamento uma carta a queixar-se de que lhe tinham sido descontados 40 contos [€200] no vencimento por ter faltado a uma sessão plenária.
Na edição de 25 de abril, o Expresso dizia em manchete que o Governo tinha optado “de vez pela solução do Montijo” para a futura Ponte Vasco da Gama, cuja imagem encimava a primeira página. No dia 6 de outubro a SIC tornou-se a primeira estação de televisão privada em Portugal. Uma das grandes agitações político-sociais do ano foi o erro numa pergunta da Prova Geral de Acesso ao Ensino Superior, que pôs estudantes e professores em pé de guerra, levando à demissão do ministro Diamantino Durão.
Outra grande polémica foi desencadeada pela atribuição de uma pensão ao ex-inspetor da PIDE Óscar Cardoso — entrevistado pelo Expresso —, “por altos e assinalados serviços prestados à pátria”, o que levou um grupo de personalidades a fazer um abaixo-assinado contra. Na mesma edição em que noticiava a pensão para o ex-inspetor da polícia política da ditadura, o Expresso recordava que um dos capitães de Abril, Salgueiro Maia, tinha morrido sem que lhe tivesse sido atribuída uma pensão semelhante.
Além de dois mediáticos assassínios — o do empresário João Champalimaud, por um dos seus funcionários, e o da conhecida atriz brasileira Daniella Perez, pelo ator que com ela contracenava na telenovela do prime-time da altura (e que morreu há cerca de dois meses) — 1992 foi também o ano em que o carro de Cavaco Silva foi atacado no Vale do Ave, assolado pelo desemprego e pela fome, e em que uma mulher entrou na Presidência do Conselho de Ministros e “limpou” calmamente as carteiras de dezenas de funcionários.
Em Paris morreu a pintora portuguesa Vieira da Silva.
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