1973

27/04/1973

PARA DEIXAR O PAÍS MELHOR

O primeiro número do Expresso seria logo uma pedrada no charco. Primeiro semanário português de informação política e generalista, inspirado nos conceituados semanários britânicos “The Sunday Times” e “The Observer”, dizia em manchete que 63% dos portugueses nunca tinham votado.

A percentagem era o resultado de um inquérito encomendado pelo jornal — e a sua publicação não foi coisa pouca, num tempo em que não havia liberdade política e de expressão e em que havia censura prévia à imprensa.

O modelo da primeira página do novo semanário estava definido: manchete forte, notícias exclusivas, do lado direito uma coluna com pequenas notícias de última hora, chamada “24 Horas”, ao fundo da página uma fotolegenda.

Na primeira edição, a fotografia estava relacionada com “dúvidas quanto à legalidade do imposto automóvel” (outro assunto que era delicado questionar) e uma das “24 Horas” era sobre um assunto que durante dias e dias causou grande sururu: um leão que teria fugido de um circo andaria à solta em Rio Maior. Contactada nessa madrugada pelo Expresso, a GNR dizia que não, não era “um facto provado”.

Nesse ano fundador, em que muitas notícias foram proibidas ou amputadas pela censura, o Expresso foi conseguindo noticiar os grandes acontecimentos nacionais e internacionais, desde atentados à bomba em unidades militares de Lisboa à chegada ao poder do general esquerdista Juan Perón na Argentina ou a chacina de Wiriyamu, a aldeia moçambicana erradicada do mapa pela tropa portuguesa.

Uma chacina que desencadeou protestos a nível internacional e foi uma sombra sobre a visita que o chefe do Governo, Marcello Caetano, fez a Londres em julho, rodeada de fortes medidas de segurança.

E tanto eram anunciadas notícias mais gerais, como a de que a pesquisa de petróleo em Portugal ia ter prioridade no Porto, Aveiro, Figueira, Leiria e Caldas, como outras mais “sensíveis” na mesma edição.

Uma reunião preparatória para um encontro político dos liberais ou a libertação pela polícia política de dois estudantes que tinham sido presos numa manifestação são apenas dois exemplos. Um dos estudantes era Saldanha Sanches, militante do grupo de extrema-esquerda MRPP e, mais tarde, fiscalista conceituado.

O caso então raro de uma mulher (americana, de 26 anos) que teve cinco gémeos e a notícia de que estavam bem encaminhadas as negociações para a produção e venda da Coca-Cola em Portugal são mais dois exemplos de notícias do Expresso de 1973. Um ano em que melhorias técnicas dos CTT passaram a permitir fazer 2700 chamadas telefónicas simultâneas entre Lisboa e Porto.

 

Expresso 1973