Ernest Hemingway
Dá as mãos ao Jornalismo e à Literatura. Hemingway celebriza-se por ser um mestre da palavra. Entre guerras, espionagem e quatro casamentos teve tempo para alcançar um Pulitzer do Jornalismo e um Nobel da Literatura
O berço de um aventureiro
Ernest Miller Hemingway nasceu em Oak Park, Illinois, nos Estados Unidos, a 21 de julho de 1899. O pai era médico e a mãe era professora de canto e ópera. Uma família educada e respeitada na comunidade.
Entre 1913 e 1917, Hemingway frequentou a Oak Park and River Forest High School, onde praticou boxe, atletismo, polo aquático e futebol. Destacou-se nas aulas de inglês e fez parte da orquestra da escola, com irmã Marcelline, durante dois anos.
Uma das grandes influências na juventude acabaria por ser Fannie Biggs, a professora de jornalismo. As aulas faziam lembrar a redação de um jornal. Os melhores alunos viam publicadas as suas peças no The Trapeze, o jornal da escola. A primeira peça de Hemingway, sobre o concerto da Orquestra Sinfónica de Chicago, seria publicada nesse jornal em janeiro de 1916.
Iniciação ao jornalismo
Depois de deixar a escola foi trabalhar como jornalista estagiário no The Kansas City Star. Trabalhou nesta publicação durante seis meses, tempo suficiente para que Hemingway se tivesse influenciado com o modo de escrita do jornal: “Use short sentences. Use short first paragraphs. Use vigorous English. Be positive, not negative." [Use frases curtas. Use primeiros parágrafos curtos. Use inglês vigoroso. Escreva pela positiva, não negativa]
O Adeus às Armas
Durante o período da Primeira Guerra Mundial tentou alistar-se no exército, mas foi rejeitado por ter um problema de visão. Decidido a combater, conseguiu uma vaga como motorista de ambulância na Cruz Vermelha.
Em Itália, apaixonou-se pela enfermeira Agnes Von Kurowsky. Pediu-a em casamento, esta aceita, mas o deixou-o, mais tarde, por outro homem. O episódio arrasou o jovem escritor, mas inspirou-o, mais tarde, na criação do famoso livro A Farewell to Arms (1929) [O Adeus às Armas]
Regressou aos Estados Unidos após ter sido ferido, com alguma gravidade, por uma bomba. Pouco depois, partiu para o Canadá, porque um amigo de família tinha-lhe oferecido um trabalho em Toronto. Posteriormente trabalhou como freelancer e correspondente do Toronto Star Weekly.
Mudou-se para Chicago em setembro de 1920, onde conheceu o escritor Sherwood Anderson e trabalhou também como editor associado no jornal mensal Cooperative Commonwealth. Apaixonou-se, pouco tempo depois, por Elizabeth Hadley Richardson, com quem casou e teve um filho. Regressou a Paris em 1921, como correspondente para o Toronto Star Weekly.
O mundo inteiro à sua espera
Em Paris integrou no famoso grupo a que Gertrude Stein (escritora, poeta e colecionadora de arte) chamou de «Geração Perdida». Sendo Stein a sua mentora, permitiu-lhe conhecer grandes escritores e artistas da sua geração. Scott Fitzgerald, Ezra Pound, Pablo Picasso, James Joyce, Guillaume Apolinaire e Henry Matisse são exemplos destas personalidades.
Durante os primeiros dois anos em Paris, Hemingway publicou ointenta e oito artigos no Toronto Star. Cobriu a Guerra Grego-Turca e reportou as suas viagens.
A vida e a obra de Hemingway têm uma intensa relação com Espanha, país onde viveu por quatro anos. Em Pamplona fascinou-se pelas touradas, transportando posteriormente essa experiência para o livro The Sun Also Rises (1926) [O Sol também se levanta].
Em 1927 casou-se com a jornalista de moda Pauline Pfeiffer, com quem teve dois filhos. Em 1928, o casal decidiu morar em Key West, na Flórida.
Não obstante, Hemingway sentia falta da vida que levava enquanto jornalista e o casamento com Pauline tornou-se instável. Nessa época, o escritor conheceu Joe Russell, dono do Sloppy Joe's Bar, que passa a ser o seu companheiro de divertimento.
A pesca era outra paixão de Ernest Hemingway. Durante a década de 30 fez longas viagens em busca do marlim. Muitas delas terminavam em Havana, Cuba, onde, mais tarde, conheceu Fidel Castro. Numa destas viagens conheceu e apaixonou-se por Jane Mason, que era casada. Inevitavelmente, tornaram-se amantes.
Um amor por cada livro
Voltou a apaixonar-se em 1936 pela destemida jornalista Martha Gellhorn, motivo do segundo divórcio, confirmando o que previra o seu amigo, Scott Fitzgerald, quando se conheceram em Paris: «Vais precisar de uma mulher a cada livro».
Hemingway e Martha viveram o seu romance em pleno clima de guerra. Ambos estavam em Espanha a cobrir a Guerra Civil. Hemingway era correspondente North American Newspaper Alliance.Contudo, depressa se deixou contagiar pela causa e aliou-se às forças republicanas contra o fascismo. Este cenário foi mais tarde retratado no livroFor Whom the Bell Tolls[Por Quem os Sinos Dobram].
Os tempos de Cuba
Acabada a Guerra Civil Espanhola, mudou-se para Cuba onde viveu até 1959. Como correspondente de guerra da Marinha norte-americana, participou no desembarque dos Aliados na Normandia e na libertação de Paris, em 1945. Em Cuba, durante a Segunda Guerra Mundial, Hemingway montou uma rede de informadores com a finalidade de fornecer, ao governo dos Estados Unidos, informações sobre os espanhóis simpatizantes do fascismo na ilha.
Em 1946, casou-se pela quarta e última vez com Mary Welsh, também jornalista mas tímida e disposta a viver ao lado de um Hemingway cada vez mais instável emocionalmente. Em 1952, publicou o famoso The Old Man and The Sea [O Velho e o Mar].
Alfred Eisenstaedt, fotógrafo da revista LIFE, que captou os retratos de algumas das personalidades mais carismáticas do século XX, inclusive Joseph Goebbels – o ministro da propaganda nazi – confessa que Ernest Hemingway “was the most difficult man I ever photographed” [foi o homem mais difícil que fotografei].
O Nobel e o Kilimanjaro
Em 1953, o escritor venceu o prémio Pulitzer e no ano seguinte foi distinguido com Nobel de Literatura.
No mesmo ano em que a sua obra foi consagrada a nível internacional, sofreu com a mulher dois acidentes de avião, em África, que talvez tenham precipitado a sua deterioração física.
Das diversas viagens que fez pelo continente africano, narrou as suas vivências em Green Hills of Africa (1935) [As Verdes Colinas de África], As Neves do Kilimanjaro e The Short Happy Life of Francis Macomber(1938) [A Curta e Feliz Existência de Francis Macomber].
Aos 61 anos, enfrentando problemas de hipertensão, diabetes, depressão e perda de memória, Hemingway suicidou-se.