Os Papas

A primeira alusão expressa do Vaticano a Fátima surgiu em 31 de outubro 1942 pela voz do Papa Pio XII numa mensagem difundida pela rádio. Sendo antiga a relação dos Papas com Fátima tem aumentado com o tempo. 

O Papa Francisco anunciou a intenção de visitar Fátima em 2017, ano do centenário das aparições. Prevê-se um novo banho de multidão no vasto recinto do santuário. O parque hoteleiro da Cova da Iria já se encontra esgotado.

Muito antes de ser eleito chefe supremo da Igreja Católica, em 2013, Jorge Mario Bergoglio, acolheu por alguns dias a imagem da Virgem Peregrina de Fátima em Buenos Aires, quando ali era arcebispo. Decorria o ano de 1998. «Bem-vinda a casa, Mãe!», exclamou o futuro Papa Francisco num santuário homónimo ao de Fátima inaugurado em 1957 numa zona pobre da capital argentina.

Vem de longe esta relação estreita entre os Papas e Fátima.

Pio XII

A primeira alusão expressa do Vaticano a Fátima surgiu em 31 de Outubro 1942 pela voz do Papa Pio XII numa mensagem difundida pela rádio.

Falando em português, o Sumo Pontífice enalteceu a «peregrinação nacional» ocorrida nesse 13 de Maio, «jornada heróica de sacrifício que, por frios e chuvas e enormes distâncias percorridas a pé, concentrou em Fátima, a orar, a agradecer, a desagravar, centenas de milhares de peregrinos», destacando os representantes da “briosa Juventude Católica”.

O legado papal, cardeal Benedetto Masella, presidiria a 13 de Maio de 1946 à coroação da imagem de Nossa Senhora de Fátima, na capelinha das aparições. Foi um dos momentos de maior solenidade alguma vez registados na Cova da Iria.

Por coincidência, a ordenação episcopal de Pio XII ocorrera precisamente a 13 de Maio de 1917. Dia da primeira aparição em Fátima.

João XXIII

Em 13 de maio de 1956, a peregrinação anual a Fátima é presidida pelo patriarca de Veneza, o cardeal Angelo Roncalli. Houve algo de premonitório nesta visita: dois anos depois, em outubro de 1958, o cardeal seria eleito Papa, com o nome de João XXIII.

Recordando essa deslocação que tanto o marcou, o cardeal Roncalli – canonizado em 2013 pelo Papa Francisco – viria a lembrá-la com estas palavras: «Ó Senhora de Fátima, agradeço-te mais uma vez teres-me convidado para este festim de misericórdia e de amor».

Paulo VI

A primeira deslocação papal a Fátima ocorre a 13 de maio de 1967, assinalando o cinquentenário das aparições. Paulo VI acorre à Cova da Iria como peregrino, rodeado por uma impressionante multidão.

É também nessa ocasião que a esmagadora maioria dos portugueses pode ver, ao lado do chefe da Igreja Católica, a Irmã Lúcia de Jesus, única vidente sobrevivente dos três pastorinhos de Fátima. Recolhida em clausura no convento das carmelitas em Coimbra desde 1948, Lúcia obteve autorização especial para este seu fugaz regresso à terra natal. Como sucederia nas visitas de João Paulo II.

«Tão grande é o nosso desejo de honrar a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Cristo e, por isso, Mãe de Deus e Mãe nossa, tão grande é a nossa confiança na sua benevolência para com a Santa Igreja e para com a nossa missão apostólica, tão grande é a nossa necessidade da sua intercessão junto de Cristo, seu divino Filho, que viemos, peregrino humilde e confiante, a este santuário bendito, onde se celebra hoje o cinquentenário das aparições de Fátima». Palavras de Paulo VI durante a homilia proferida em língua portuguesa perante uma impressionante multidão, avaliada em um milhão de pessoas. À mesma hora, Lisboa estava praticamente despovoada.

João Paulo I

Albino Luciani, patriarca de Veneza, o primeiro Papa nascido no século XX e também o primeiro a escolher dois nomes próprios, liderou a Igreja Católica durante apenas 33 dias, entre 26 de agosto e 28 de setembro de 1978, quando morreu subitamente.

João Paulo I foi conhecido pelo «Papa do sorriso». Pelo seu ar afável e sorridente. Um ano antes de ser eleito Sumo Pontífice, Albino Luciani fez questão em visitar Fátima pela primeira vez. Foi em peregrinação ao santuário a 10 de julho de 1977 e participou na celebração eucarística. No dia seguinte, celebrou missa no convento das carmelitas em Coimbra, tendo aproveitado a ocasião para conversar com a Irmã Lúcia. Nesse encontro participou também a Marquesa do Cadaval (1900-1996), nascida em Turim.

João Paulo II

O Papa-peregrino por excelência – e aquele que demonstrou maior devoção por Fátima – foi o polaco Karol Wojtyla, que o mundo conheceu por João Paulo II.

A 13 de maio de 1981, quase três anos após ter sido entronizado, João Paulo II foi alvo de uma tentativa de assassínio na Praça de São Pedro: dois tiros quase à queima-roupa de uma pistola Browning disparada pelo turco Ali Agca deixaram-no à beira da morte.

Uma bala destruiu-lhe parte do cólon. A outra passou a milímetros da artéria aorta.

Wojtyla acabou por recuperar após uma intervenção cirúrgica e de emergência e de um internamento prolongado, nunca deixando de associar o seu restabelecimento à intervenção da «mão invisível» de Nossa Senhora de Fátima.

De tal maneira que decidiu visitar a Cova da Iria um ano depois. A 12 de maio de 1982, aterrou em Lisboa e ajoelhou-se de imediato, beijando o solo português. «Com uma agilidade que não se esperaria no homem que foi vítima de tão grave atentado, levanta-se sem ajuda de ninguém», escreveu o Diário de Notícias.

«Estou a realizar um sonho», declarou o Pontífice à chegada.

Seria a primeira das três visitas de João Paulo II. Nessa primeira deslocação, seria alvo de uma tentativa de agressão por parte de um ex-sacerdote integrista espanhol chamado Juan Khron, mas escapou incólume. E dirigiu um agradecimento redobrado à Virgem Maria.

Na ocasião, João Paulo II ofereceu ao santuário de Fátima a bala que esteve a milímetros de o matar. Em 1989, esta bala seria encastoada na coroa de Nossa Senhora de Fátima, onde hoje se encontra.

Wojtyla regressou a Fátima em maio de 1991, no décimo aniversário do atentado em Roma, culminando uma viagem que o levou também a Lisboa, Açores e Madeira. E novamente em Maio de 2000, já com a saúde bastante alquebrada, por ocasião da cerimónia solene de beatificação dos pastorinhos Jacinta e Francisco (Lúcia, então ainda viva, só seria beatificada em 2008).

Lúcia e Wojtyla morreriam com menos de dois meses de diferença. A vidente a 13 de fevereiro de 2005 e o Papa a 2 de Abril. João Paulo II foi declarado santo em 2013 pelo Papa Francisco.

Bento XVI

Também Bento XVI – sucessor de João Paulo II – fez uma peregrinação à Cova da Iria. Em maio de 2010.

«Aqui estou como um filho que vem visitar a Mãe», declarou o Papa alemão na sua oração de 12 de maio em Fátima. Entregando ao santuário a Rosa de Ouro, transportada de Roma. «Como homenagem de gratidão do Papa pelas maravilhas que o Omnipotente tem realizado por Vós no coração de tantos que peregrinam a esta vossa casa maternal».

Nove anos antes de ser eleito Papa, enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger visitara Fátima, na peregrinação de 13 de outubro de 1996.