1980
MORTE DE SÁ CARNEIRO
O ano ficou marcado por um acontecimento trágico ocorrido no último mês do ano. No dia 4 de dezembro, quando ia para o Porto apoiar o candidato do centro-direita à Presidência, general Soares Carneiro, o primeiro-ministro, Sá Carneiro, morria na queda da avioneta que tinha acaba de levantar voo do aeroporto de Lisboa. Morreram todos os ocupantes: o chefe do Governo, a sua companheira, Snu Abecasis, o seu ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, outros dois passageiros e os dois pilotos.
As circunstâncias do desastre iriam ser tema de debate durante muitos e longos anos, com investigações, comissões parlamentares de inquérito sucessivas, polémicas, acusações, revelações, falsas ou verdadeiras, etc. Tudo em torno de uma dúvida: acidente ou atentado?
Voltando ao início do ano, logo no dia de Ano Novo houve um terramoto nos Açores, o mais destrutivo dos 200 anos anteriores em Portugal, que fez 73 mortos e 30 mil desalojados.
E, pela primeira vez desde a sua criação, o Expresso abria o ano deixando de ter no cabeçalho o nome de Francisco Pinto Balsemão como diretor — acabara de ser nomeado ministro-adjunto do primeiro-ministro, explicava o próprio em nota ao cimo da primeira página.
A Aliança Democrática, coligação entre o PSD, o CDS e o pequeno Partido Popular Monárquico, venceria as eleições de outubro, glosadas na semana anterior no primeiro cartoon de António a ser publicado numa primeira página do Expresso, no qual mimetava o quadro “O grito”, de Edvard Munch, pondo um zé-povinho a gritar.
Lá fora nascia um novo país em África (adeus Rodésia, olá Zimbabué), era assassinado em Nova Iorque o ex-Beatle John Lennon e os Jogos Olímpicos causavam grande agitação internacional. Organizados em Moscovo, foram boicotados pelos Estados Unidos e seus aliados, em protesto pela invasão soviética do Afeganistão, no ano anterior.
1980 foi também o ano do “piratinha do ar”, o adolescente que desviou um avião da TAP para Madrid. O serviço militar deixou de ser obrigatório, o Governo abriu concurso para a autoestrada Lisboa-Estoril e a GNR foi desenterrar à serra de Sintra, depois de um telefonema anónimo, 15 metralhadoras G-3 bem acondicionadas e prontas a disparar.
Antes, uma delegação do Governo português tinha ido ao Iraque comprar petróleo e deixado “apalavrado” um fornecimento suplementar, a troco do fornecimento de urânio nacional.
Antes ainda, logo a 25 de janeiro, o Presidente Ramalho Eanes tinha festejado 45 anos e recebido da sua equipa de trabalho na presidência uma bicicleta de corrida — para dar umas “pedaladas” num ano que seria politicamente duro.
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