1977
COCA-COLA E “PACOTES” DO FMI
Ao longo de todo este ano, que começou com a Coca-Cola a ser finalmente autorizada por cá, houve dois grandes assuntos que foram recorrentes: a Lei de Bases da Reforma Agrária e as “missões” do Fundo Monetário Internacional.
Na verdade, não foi apenas a Lei de Bases da Reforma Agrária que andou em bolandas. Outras duas importantes leis “de regime” foram objeto de longas e complicadas negociações, a lei das indemnizações (de bens expropriados) e a que estabeleceu a delimitação entre os sectores público e privado.
Quanto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), começou as visitas na primavera. Depois de ter aprovado no início do ano um primeiro “pacote de ajuda financeira” a Portugal, foi efetuando novas “missões” ao longo do ano, aprovando novo “pacote” no outono.
Com maior ou menor rigor, a receita de ambos era a mesma: apertar o cinto, com aumentos de preços e serviços, desvalorização do escudo, subida das taxas de juro (que no crédito ao consumo chegaram a ser de 27%, etc.) “Das taxas de juro aos salários (passando por bacalhau e café) o FMI tudo quer ‘aconselhar’”, intitulava o Expresso em manchete na edição de 29 de outubro. E na edição seguinte, igualmente no cimo da primeira página, um cartoon de António mostrava o diretor do FMI da altura, Johannes Witteveen, com uma pequena cara de Mário Soares na outra gola do casaco a olhar para cima, sob o título “À espera do novo ‘assalto’ do FMI”.
No primeiro trimestre, Soares, chefe do Governo, já tinha calcorreado a Europa em busca de ajuda financeira. E, em março, tinha pedido formalmente a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia.
A nível internacional, um dos acontecimentos com mais impacto em Portugal foi aquilo que ficou conhecido como “o 27 de maio” em Angola. A pretexto de uma alegada tentativa de golpe de Estado liderada pelo ministro Nito Alves, o regime de Agostinho Neto prendeu, torturou e fuzilou sumariamente muitos milhares de angolanos.
Por cá, uma conferência da Organização das Nações Unidas realizada no Algarve alertava já nessa altura que a desertificação ameaçava vastas regiões portuguesas e a Revista do Expresso apresentava na primeira edição de junho “o automóvel do ano 2000: mais pequeno, mais leve, com radar e outras maravilhas eletrónicas”.
Depois, já quase no fim do ano, um abalo político e uma tragédia. Em Lisboa caía o I Governo Constitucional, chefiado por Mário Soares. Na Madeira registava-se a maior tragédia da aviação portuguesa, quando um Boeing 727-200 da TAP oriundo de Bruxelas que aterrou com mau tempo, não conseguiu parar até ao fim da pista do Funchal (que ainda não tinha sido ampliada) e caiu ao mar. Morreram 131 pessoas.
O ano terminou com o anúncio de que a CP ia lançar em janeiro dois novos “comboios-foguetes”, que permitiriam ir de Lisboa ao Porto em três horas e meia. E a maioridade passou dos 21 para os 18 anos.
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