2019

27/04/2019

OS DIAS DO FIM​​

Em 2019, o Expresso fez as contas e descobriu que em Portugal há 95 políticos a comentar nos media. E também descobrimos que neste país nasce uma Igreja por mês. “Em 15 anos, foram registadas 853 confissões religiosas. 97 surgiram nos últimos cinco anos.”

Com tanta religião, até um juiz desembargador se lembrou de citar a Bíblia num acórdão de violência doméstica. Neto de Moura usou o adultério “como pretexto para suspender a pena ao ex-marido e ao ex-amante de uma mulher que agrediram com uma moca com pregos” e escreveu: “O adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte. Na Bíblia podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte. Ainda não foi há muito tempo que a lei penal [de 1886] punia com uma pena pouco mais que simbólica o homem que, achando a sua mulher em adultério, nesse ato a matasse.” Os políticos tiveram um ano cheio com eleições europeias e legislativas. Na corrida para o Parlamento Europeu, venceu o PS com 33,38%, tendo Pedro Marques a cabeça de lista. Em segundo lugar ficou o PSD, com 21,94%, que tinha apostado em Paulo Rangel. Foi o pior resultado de sempre do PSD a concorrer sozinho.

Nas legislativas, o PS teve 36,34%, e o PSD 27,76%. O PAN cresceu para quatro deputados, menos um que o CDS. Três dos pequenos partidos entraram pela primeira vez na Assembleia, elegendo um deputado cada: o Chega (André Ventura), a Iniciativa Liberal (João Cotrim de Figueiredo) e o Livre (Joacine Katar Moreira).

Na Cultura tivemos notícias de sumiços (“Desapareceram 170 obras da coleção de arte do Estado”) e de revelações (“A joia da coroa da coleção privada da família Espírito Santo, ‘Festa de Casamento’, de Pieter Bruegel, o Jovem, foi entregue ao Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora. Avaliada em quatro milhões de euros, a obra-prima do pintor flamengo integra o espólio do Novo Banco”).

Entre as personalidades desaparecidas nesse ano contam- -se Agustina Bessa-Luís, João Gilberto, Alexandre Soares dos Santos, Freitas do Amaral, Karl Lagerfeld, Agnès Varda, Augusto Cid, Niki Lauda, Franco Zeffirelli, Robert Mugabe, Jacques Chirac, Roberto Leal, Harold Bloom, José Mário Branco…

O mundo continuou a não ser um bom lugar. Os incêndios florestais na Amazónia foram tão graves que levaram a uma reação da comunidade internacional. Entre janeiro e agosto arderam mais de 906 mil hectares, em grande medida devido ao aumento das queimadas para desmatar a floresta e implementar pastos. O fumo escureceu o céu de São Paulo, a 2700 km de distância.

Outro património da Humanidade que pegou fogo nesse ano foi a catedral de Notre-Dame de Paris. Salvou-se a estrutura, perderam-se as partes em madeira e muito recheio foi fortemente afetado.

Com a Venezuela a passar pela pior crise da sua história, com 90% da população a viver na pobreza e todos os que podiam a tentarem fugir da fome para os países vizinhos, Juan Guaidó autoproclamou-se Presidente interino, tendo sido reconhecido pelos EUA e o Brasil, entre outros países, mas Nicolás Maduro conseguiu aguentar-se no poder.

Em Christchurch, na Nova Zelândia, um australiano de extrema-direita levou a cabo um atentado a tiro contra muçulmanos, matando 51 pessoas.

Eclodiram violentos protestos em Hong Kong contra uma lei de extradição que iria pôr em causa a autonomia da região relativamente à China.

Na Madeira, um acidente com um autocarro de turismo causou 29 mortos, a maioria alemães.

Jorge Jesus foi para o Brasil treinar o Flamengo e conseguiu vários títulos para o clube, entre os quais a Taça Libertadores, o que lançou uma moda de contratação de treinadores portugueses. Iker Casillas, guarda-redes do Futebol Clube do Porto, e internacional espanhol, sofreu um enfarte durante um treino. O jogador recuperaria, mas terminaria a carreira no ano seguinte.

Em 2019, Portugal foi visitado pela jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg (então com 16 anos), “o rosto do combate às alterações climáticas”. “Não me vejo como uma pop star”, disse ao Expresso, antes de apanhar o comboio para Madrid, onde decorria a cimeira global do clima. Acabou por ser a Figura do Ano da “Time”.

O Expresso fez um grande gesto pelo ambiente e a partir da edição de 5 de janeiro abandonou o saco de plástico, que acompanhava o jornal há 26 anos, e passou a ser distribuído num saco de papel.

 

 

Expresso 2019