1976

27/04/1976

A LEI FUNDAMENTAL

O grande acontecimento político do ano foi a aprovação da Constituição da III República Portuguesa, no início de abril.

Figura-mor do 25 de novembro do ano anterior, o general Ramalho Eanes foi eleito Presidente da República, num ano em que se assistiu a um surto bombista, sobretudo no norte do país, contra objetivos e personalidades da esquerda (como sedes do PCP), ações atribuídas ao grupo de extrema-direita MDLP. Um dos atentados mais mediáticos foi o que vitimou o padre Max, ligado ao partido de extrema-esquerda UDP, e a jovem que seguia com ele no carro.

Em Lisboa, a embaixada de Cuba foi destruída à bomba, causando a morte de dois diplomatas. Mais para o fim do ano, outro atentado, contra condutas da EPAL na Póvoa de Santa Iria, reduziu durante alguns dias o fornecimento de água a Lisboa.

A austeridade foi uma constante durante o ano, com a adoção de novos “pacotes” de restrições, desde o aumento de preços de produtos alimentares a limitações à circulação automóvel, passando pela redução do consumo de eletricidade (que chegou a estar cortada durante várias horas por dia, por regiões) e pela limitação das importações.

Em julho o Expresso anunciava em manchete que ia entrar em vigor o sistema alternado de circulação automóvel: entre as 15 horas de sábado e as 2 h de segunda-feira apenas poderiam circular veículos automóveis com matrículas pares ou ímpares.

Um dos grandes temas políticos em discussão foi o chamado “mapa da reforma agrária”, ou seja a delimitação das zonas do país — sobretudo do Tejo para baixo, até meio do Algarve — onde poderia haver expropriações de terras.

O conhecido apresentador Carlos Cruz demitiu-se de diretor de programas da RTP, cujo presidente anunciara durante uma viagem à Alemanha que a televisão a cores ia começar em Portugal no dia 1 de junho do ano seguinte.

Mesmo a fechar o ano, a extrema-direita fez nova “prova de vida”. Um Movimento Nacional Neonazi entregou no Expresso — acusado de ser um jornal “provocador” — um comunicado dizendo ir realizar o seu congresso em Cascais.

E, depois de muitos meses de detenção, os 23 militares portugueses que tinham sido presos pelos indonésios após a invasão de Timor regressaram a Portugal a tempo de passar o Natal com as famílias. Lá fora, tinha morrido Mao Tse Tung, fundador da República Popular da China.

 

 

Expresso 1976