1996
VIAGENS-FANTASMAS E VACAS LOUCAS
1996 começou com uma situação insólita: um sorteio do Totoloto teve de ser repetido, porque na extração inicial saiu por engano uma bola com o número zero. E com um novo Presidente, Jorge Sampaio.
Durante o ano, um dos temas políticos de que mais se falou foi do “caso Batman”, como ficou conhecido o esquema de viagens-fantasmas de dezenas de deputados, que utilizavam verbas de viagens da Assembleia da República para pagar despesas pessoais. Fora da política, um dos casos do ano foi a morte e decapitação de um detido pelo sargento que comandava a esquadra de Sacavém.
A doença das vacas loucas (encefalopatia espongiforme bovina, BSE, na sigla em inglês) foi um assunto recorrente. Dois anos depois de ter sido reconhecida a existência de casos em Portugal, foi elaborado um plano para a erradicação da doença, que ia corroendo o cérebro das vacas até à morte. A enfermidade passaria para os humanos, com os mesmos efeitos. As “iscas com elas” desapareceram praticamente dos menus.
Como mostra a primeira página do Expresso escolhida para representar esse ano, foi inaugurada uma igreja radicalmente diferente de todas as outras — o templo futurista de Marco de Canaveses, da autoria de Siza Vieira. Um bispo, D. Ximenes Belo, de Díli, recebeu o prémio Nobel da Paz, juntamente com José Ramos-Horta.
Um dos grandes vultos da cultura nacional, Vergílio Ferreira, deixou-nos neste ano, durante o qual surgiu a primeira indicação de que a Guiné Equatorial queria aderir à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Outras notícias de que o Expresso fez chamada ao longo do ano na primeira página foram de assuntos como o estado da Educação — 6 mil notas zero nos exames de Matemática do 12º ano — a temas ligeiros. Um deles contava que estava por cá um cavalo da Real Escola Andaluz de Arte Equestre, para cobrir éguas nacionais a custo zero (se fosse um cavalo luso custaria cerca de 500 contos [€2500] por cobrição). E faziam-se contas: chegado no início dessa semana, o garanhão espanhol tinha feito até à hora de fecho da edição seis cobrições.
Com o início do verão, o Expresso tomava a decisão inédita de enviar a redação do Viva, o caderno de life&style, que nessa altura tinha mais de uma dezena de elementos, para o Algarve nos meses de julho e agosto.
Foi a meio deste mês que Marcelo Rebelo de Sousa se queixou na primeira página do Expresso de que já tinha “feito as contas” e podia dizer que ganhava menos num ano enquanto líder do PSD do que ganhava antes por mês.
Na edição seguinte, uma foto na primeira página que hoje seria considerada sexista: uma mulher em biquíni na praia, a ilustrar um artigo sobre o verão menos quente do Algarve em 15 anos.
Sempre a inovar, o Expresso, que no início do ano tinha criado um caderno de televisão (Antena), lançou mais dois: Economia & Negócios e XXI.
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